Democracia:

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"Ensina-me SENHOR a ver as minhas próprias faltas e apaga-me a vocação de descobrir as faltas alheias." Emanuel

sábado, 19 de dezembro de 2009

abril...

A mentira e a verdade nas mãos da imprensa

A falsificação da história - 2

Por Gershon Knispel

“A Guerra Fria e suja nos bastidores que reúne espionagem, corrupção
e assassinatos da temida KGB”. Será?

A Abril lançou a revista “Aventuras na História” com três gigantescas letras metálicas na capa, para apresentar episódios relacionados à KGB, apontada como responsável pelo desencadeamento da “Guerra Fria” e suja.

Mas no próprio roteiro da revista apareceram fatos reais que mudam o quadro completamente. Já no início se diz: “Desde que chegaram ao poder, os comunistas sempre enfrentaram a ameaça e, às vezes a tentativa direta de intervenção militar estrangeira. Britânicos e americanos patrocinaram os esforços de restauração do czar e as ações militares da revolta anticomunista detida por Lenin em 1919, e armaram o Exército Branco, na guerra civil de 1921.”

Mais um parágrafo da revista, intitulado “Os espiões de Cambridge”:

“Ainda nos anos 20, começou um plano do NKVD para infiltrar espiões no serviço de inteligência britânico. Jovens estudantes que seguiriam carreira diplomática ou nos órgãos de segurança e que manifestavam simpatia pelas idéias marxistas eram identificados e recrutados. Membros do Partido Comunista local eram descartados, pois nunca teriam acesso a dados internos do governo. Assim surgiu o grupo conhecido como os Espiões de Cambridge, quatro jovens que por quase 30 anos passaram segredos importantes aos contatos soviéticos na Europa. Guy Burgess (1910-1963), Anthony Blunt (1907-1983), Ronald Maclean (1915-1983) e Kim Philby (1912-1988) atuavam no Escritório de Contrainteligência e no Serviço Secreto de Inteligência britânico e foram responsáveis por revelar os projetos sobre a bomba atômica aos soviéticos. Permitindo o rápido acesso da URSS ao armamento nuclear, quando o presidente americano Harry Truman tinha sobre a mesa um plano de bombardeio a 32 cidades soviéticas, os espiões de Cambridge acabaram ajudando a salvar o mundo de uma catástrofe, já que os EUA desistiram da idéia temendo as conseqüências igualmente desastrosas”.

O que vocês iam esperar dos dirigentes soviéticos diante dessa notícia de que estava sendo planejada uma guerra atômica contra a URSS e de que o destino dos habitantes dessas 32 cidades soviéticas estava em jogo? Incrível que planos desses já tenham sido planejados na mesma época dos abraços famosos entre oficiais aliados e soviéticos em Berlim.

Há pouco tempo tivemos a oportunidade de acompanhar o famoso documentário do secretário de Estado Robert McNamara no tempo da crise dos mísseis cubanos, iniciada durante o governo de John Kennedy e que se agravou depois do assassínio de Kennedy, com a subida de seu vice Lyndon Johnson. McNamara descreveu, de uma forma que deixa os cabelos em pé, a facilidade chocante de pôr o dedo no botão que desencadeia o lançamento de bombas atômicas, já que a bomba atômica já tinha sido experimentada duas vezes, levadas por aviões B-52, contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

Ethel e Julius Rosenberg
Os responsáveis pela reportagem da revista da Abril preferiram ignorar o caso Rosenberg. A lembrança desse casal judeu americano, culpado dos mesmos delitos dos professores de Cambridge, não vou esquecer nunca. Não vou esquecer a noite de vigília que passamos a 19 de junho de 1953, quando enormes manifestaçõess de milhares de
pessoas nas principais capitais do mundo protestavam contra a pena de morte na cadeira elétrica, exigindo do presidente Eisenhower a comutação da pena. Mas de tudo isso não resultou nada e o casal foi eletrocutado naquela noite.

Se fala muito na revista da falsa acusação aos médicos judeus do Kremlin no mesmo ano. Mas esse episódio do casal judeu condenado nos EUA não é mencionado pela Abril.

Direitos da “Guera Fria”
Três causas deram origem à Guerra Fria: a primeira, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, que era uma advertência para qualquer adversário dos Estados Unidos. Segunda, o mccarthismo. Ainda no fim dos anos 1940 o senador pelo Wisconsin, Joseph McCarthy, histericamente perseguindo dirigentes importantes do governo americano, intelectuais, professores de universidades, atores e diretores do teatro e cinema, escritores, poetas, maestros, os acusou de atuações comunistas e atividades contra os Estados Unidos, que punham em risco a “democracia americana”.

Utilizando a Comissão Contra Atividades Antiamericanas, McCarthy liquidou a cidadania e os direitos de permanência no país de grandes personalidades, como o dramaturgo alemão Bertholt Brecht, asilado do nazismo, o escritor Prêmio Nobel Ernest Hemingway, o grande cantor e autor afroamericano Paul Robeson, Charles Chaplin, Orson Welles e muitos, muitos outros, que tinham a escolha entre serem expulsos do país, ou terminarem na prisão, ou se suicidarem.

Do outro da barricada, o cineasta Elia Kazan e o ator Ronald Reagan entregaram os seus amigos na mão desses inquisidores, que foram chamados de “caçadores de bruxas” pelo dramaturgo Arthur Miller em uma sua peça. O grande jornalista Edward R. Murrow, com sua coragem fantástica, desmascarou McCarthy: “Sua grande conquista foi confundir a mente do público, bem como confundir a ameaça interna e a externa do comunismo. Não podemos confundir a dissidência com a deslealdade. Precisamos sempre lembrar que uma acusação não é prova e que a condenação depende das provas e do devido processo legal. Não seremos levados pelo medo a uma era de desrazão, se cavarmos fundo na nossa história e na nossa doutrina e lembrarmos que não descendemos de homens medrosos. (...)


Gershon Knispel é artista plástico

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