Democracia:

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"Ensina-me SENHOR a ver as minhas próprias faltas e apaga-me a vocação de descobrir as faltas alheias." Emanuel

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

REpressão

Até onde se pode perdoar

Por Rui Martins

Filme de Clint Eastwood cai como uma luva no debate atual no Brasil sobre torturas e assassinatos durante o regime militar.

A estréia do novo filme de Clint Eastwood, Invictus, é de extrema atualidade no Brasil, porque faz refletir sobre punição ou perdão ou, se quiserem, sobre justiça e verdade, tendo com pano de fundo a reconciliação.
Ainda me lembro do meu encontro com Simon Wiesenthal, em Viena, há vinte anos, numa entrevista sobre seu livro Justiça não é Vingança, no qual justificava a transformação de sua vida de sobrevivente de um dos campos do Holocausto, na caça aos nazistas.
E me emociono, diante do relato dos que acompanharam os três anos de depoimentos públicos, por vítimas e culpados, na Comissão de Verdade e Reconciliação, na África do Sul, de que o bispo Desmond Tutu, presidindo os trabalhos, com a cabeça apoiada nas mãos chorava, diante dos relatos de tantas atrocidades e crimes cometidos pelo apartheid contra os negros.
Ali, naquele tribunal moral, sem poder para punir, registraram-se os depoimentos de familiares de nove mil torturados, mortos, enterrados ou lançados ao mar, e de mais de 50 mil vítimas de torturas e agressões por serem negros ou por terem tentado se revoltar contra o apartheid ou por serem do ANC. Também os excessos cometidos pelo ANC na sua luta armada contra o apartheid foram ali levados.
Quando, em abril de 94, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, o país corria o risco de não resistir à explosão dos ajustes de contas. Porém, Mandela tomou a dianteira e defendeu um país de negros e brancos reconciliados. Sem a pacificação, a África do Sul não teria sobrevivido ao apartheid e, no caos previsível, pouco restaria do país.
É aqui entra a atualidade do filme Invictus, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman, escolhido pelo próprio Nelson Mandela para representá-lo na tela. Ao ler, no ano passado, um livro sobre o papel do esporte na pacificação sulafricana, Morgan fez a Clint a proposta de uma versão cinematográfica do papel da seleção Springboks, na Copa do Mundo de Rugby, em 95, disputada na África do Sul como será agora disputada a Copa do Mundo de Futebol.
Logo após a eleição de Mandela como presidente, seu partido ANC tinha por objetivo desmantelar todo o poder branco. E isso incluía a seleção Springboks, símbolo do poder branco. Mas Mandela surge, inopinadamenge, no encontro em que seu partido pretende acabar com o Springboks dos brancos para impor a reconciliação e transformar a conquista da copa do mundo de rugby, numa conquista da África do Sul negra e branca. Assim, François Peinaar, um branco boer, pôde continuar dirigindo o Springboks e levar a África do Sul à vitória.
Até que ponto ia essa pacificação ? Um dos ouvidos pela comissão verdade e reconciliação foi o médico e cientista Wouter Basson, também chamado de Doutor Morte. Evitando se desculpar e afirmando que trabalhava como médico militar para seu país, Basson concordou ter feito pesquisas diversas, num projeto do governo branco sulafricano, destinado a encontrar uma molécula capaz de ser sensível à melanina, para matar ou tornar estéreis as pessoas de pigmentação negra.
Em outras palavras, Wouter Basson era uma versão sulafricana do nazista Mengele e chegou também a fazer experiências mortais com negros levados ao seu laboratório.
Ao fim dos debates, Wouter Basson, acusado de 46 mortes estranhas pela Anistia Internacional e mesmo de inoculações mortais do virus da Aids em negros, pôde sair do tribunal sem escolta e foi considerado inocente, num julgamento presidido por um juiz nomeado ainda sob o regime do apartheid, sob protestos de pessoas como o bispo Desmond Tutu.
A reconciliação desejada por Mandela impediu uma fragmentação da África do Sul, mas o país vive hoje um clima de violências e não parece ainda ter se encontrado. Teria havido muito perdão, como esse concedido ao Doutor Morte, ainda hoje médico militar com consultório de cardiologia em Pretória ?

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Gripes

PANDEMIA... DE LUCRO!

No mundo, todos os anos morrem dois milhões de pessoas vítimas da malária, que poderia ser prevenida com um simples mosquiteiro.

E a mídia não diz NADA.

No mundo, todos os anos dois milhões de meninos e meninas morrem de diarréia que poderia ser tratada com um soro oral de 25 centavos.

E a mídia não diz NADA.

Sarampo, pneumonia, doenças curáveis com vacinas baratas, causam a morte de dez milhões de pessoas no mundo todos os anos.

E essas notícias não são divulgadas.

Mas há alguns anos atrás, quando a gripe aviária surgiu, inundaram o mundo de notícias, sinais de alarme…
Uma epidemia, a mais perigosa de todas! Uma pandemia! Só ouvia da terrível doença das galinhas.

Porém, o influenza causou a morte de 250 pessoas em todo o mundo. 250 mortos durante 10 anos, para o qual dá uma média de 25 vítimas/ano.

A gripe comum mata meio milhão de pessoas todos os anos no mundo. Meio milhão contra 25.

Um momento. Então, por quê se armou tanto escândalo com a gripe aviária?

Simples. Porque atrás dessas galinhas havia um "galo", um galo de espora grande.

O Laboratório farmacêutico Roche com o seu já famoso Tamiflú, vendendo milhões de doses aos países asiáticos.
Embora o Tamiflú é de efetividade duvidosa, o governo britânico comprou 14 milhões de doses para prevenir a população deles..

Com a gripe aviária, Roche e Relenza, as duas grandes companhias farmacêuticas que vendem esses antivirais, obtiveram milhões de dólares de ganância.

Antes com as galinhas e agora com os porcos. Sim, agora a psicose começou com a gripe suína. E os jornalistas do mundo só falam disto.

Eu desejo saber: se atrás das galinhas havia um "galo", atrás desses porcos não haverá um "grande porco"?
Porque indubitavelmente são as multinacionais poderosas que vendem os remédios supostamente milagrosos.

E novamente a "bola da vez" é o "milagroso" Tamiflú? Quanto custa? US$50 a caixa!
50 dólares uma caixa de pastilhas? Que negocião!

A companhia norte americana Gilead patenteou o Tamiflú. O maior acionista desta companhia é um personagem sinistro, Donald Rumsfeld, o secretário de defesa de George Bush, "descobridor" das armas químicas que ocasionou a guerra contra o Iraque.
Os acionistas dos grupos Roche e Relenza estão se dando as mãos, felizes com as vendas milionárias do duvidoso Tamiflú.

A verdadeira pandemia é o lucro, a enorme ganância destes mercenários da saúde.

Se a gripe suína é uma pandemia tão terrível como anunciam os meios de comunicação, se para a Organização Mundial da Saúde (OMS) ela preocupa tanto, por quê não declara isto como um problema de saúde pública mundial e autoriza a fabricação de medicamentos genéricos para a combater?

Mario Maestri

2010: sob o estigma da crise
Escrito por Valéria Nader
06-Jan-2010

Se a rapidez com que foi retomada a nova onda de otimismo e euforia em 2009, após a eclosão da crise financeira internacional, não deixa margem para visões ingênuas – conforme exaustivamente analisado por nossos editorialistas, colunistas e colaboradores na edição final retrospectiva de 2009 -, muito menos há que se cultivá-las nesse início de 2010.

Não houve qualquer alteração no atual padrão de acumulação capitalista - cuja característica fundamental é a radical instabilidade, em face da hegemonia absoluta do capital financeiro e de sua lógica de funcionamento – como indicara o economista Luiz Filgueiras em entrevista à edição retrospectiva. Em alinhamento com esta visão, o historiador Mário Maestri, o entrevistado especial dessa edição prospectiva, ressalta, que ‘nada foi feito no relativo às razões estruturais da crise, sobretudo o imenso descompasso entre a produção em crescimento e o estreitamento incessante, relativo e absoluto, da renda do trabalho e, portanto, da capacidade de consumo’.

Não há, assim, nenhuma indicação de que a economia se voltará finalmente para o mercado interno, conforme promessa do governo, revertendo a tendência galopante de reprimarização de uma economia, voltada essencialmente às exportações. Antevê-se retomada frágil, não sustentável, vez que apoiada em economia real estreita.

E o enfraquecimento do mundo do trabalho impingirá ainda fortes marcas políticas em um ano de eleições. Tende a prosseguir a ocupação do espaço político da esquerda por representantes e propostas de segmentos sociais, sobretudo médios, com contradições não essenciais com a ordem capitalista vigente. Para Maestri, a candidatura de Marina Silva seria emblemática desse processo.

Confira a seguir entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: Qual sua opinião sobre o estado real da economia mundial? Como será 2010?

Mario Maestri: A crise de fins de 2008, inaugurada pela quebra do banco de investimentos Lehmann Brothers, o quarto maior dos EUA, encerrou abruptamente o ciclo de excepcional acumulação vivido pelo capital entre 2002-2008, nascido da contra-revolução neoliberal de fins de 1980 e da produção artificial do consumo, em contexto de depressão tendencial da renda popular, através do endividamento individual e público; da criação de capital fictício e da renda artificial; da apropriação da renda pública; dos gastos de guerra etc.

A crise foi combatida pelos bancos centrais mundiais com transferências astronômicas ao sistema industrial, sobretudo bancário-financeiro, redução radical das taxas de juros, facilitando a retomada do crédito, a produção e a acumulação de capitais. O que impediu crise geral do sistema e ensejou superação da primeira onda depressiva, após um ano, ao contrário dos cinco necessários em 1929.

Porém, nada foi feito no relativo às razões estruturais da crise, sobretudo o imenso descompasso entre a produção em crescimento e o estreitamento incessante, relativo e absoluto, da renda do trabalho e, portanto, da capacidade de consumo. No frigir dos ovos, a racionalização, concentração e centralização da produção aceleradas pelos financiamentos estatais aprofundaram a destruição e a exploração do trabalho vivo.

A sensação de superação da crise, permitida pela expansão normal após a depressão – reposição de estoques, valorização do capital etc. – também é necessidade político-ideológica do capital para retomar a oposição à regulamentação e à expansão da área pública, soluções que infiltraram as percepções populares, mesmo impermeabilizadas pela retórica fundamentalista das décadas anteriores.

A retomada da expansão será frágil, não sustentável, pois apoiada em economia real ainda mais estreita, incapaz de repetir o ciclo de acumulação anterior. A saída da crise de 1929, com trinta anos de expansão, foi parida pela Segunda Guerra, com depressão de salários, desvio de gastos públicos, reorganização da produção mundial, gastos de reconstrução etc. Como as águas procuram o vale, a retomada econômica desembocará em novo ciclo depressivo. Porém, sem superação política, não haverá superação econômica da crise, impondo-se seus efeitos sociais barbarizantes.

CC: 2009 encerrou-se entre nós sob paradoxal clima de otimismo, quase euforia, após esta eclosão da crise de 2008, com fortes repercussões no Brasil!

MM: No Brasil, a euforia manteve-se durante o momento recessivo. A crise não chegaria e, se chegasse, seria "marolinha". E, antes que se instalasse, já saíamos dela primeiro e melhor que todos! O Brasil vive sob domínio de representações virtuais congratulatórias de desapiedada realidade objetiva, difundidas, sobretudo, mas não apenas, pela mídia. Manipulação das consciências e das percepções necessárias à dura ditadura do capital.

Alardeia-se que famílias com renda suficiente para o aluguel de apartamento de dois quartos e três refeições ao dia constituem nova e poderosa classe média! Festejam-se milhares de novos postos de trabalho, que nos fatos repõem apenas os perdidos durante a recessão! Somos o país poderoso que sediará as Olimpíadas em 2016 e o Mundial de Futebol de 2014, enquanto a polícia pacificadora da Cidade Maravilhosa ocupa militarmente bairros populares e fecha os olhos a milicianos que trocam o negócio da droga pelo escorcho popular!

É a manipulação das consciências que alcançou virtuosidade nos governos Lula da Silva, facilitada, por um lado, pela fragilidade estrutural e conjuntural do mundo do trabalho e, por outro, pela hegemonia do capital e de seu consenso sobre Lula da Silva e sua rede de partidos e organizações com raízes populares – PT, PCdoB, CUT etc. – para a manutenção da expropriação popular.

CC: Trata-se de manipulação nascida apenas da mídia ou com raízes mais profundas?

MM: O Brasil possui área continental e rica variedade climática, ecológica, geológica, hídrica. Sobretudo, possui uma das maiores populações mundiais, lingüisticamente homogênea, profundamente envolvida pela globalização capitalista. População que, em boa parte, vive situações, percepções e tradições, digamos, semi-modernas, que permitem super-lucratividade ao capital, no ciclo recessivo ou expansivo.

Parcelas de nossa população emergiram recente ou parcialmente de espaços sociais pré-capitalistas, dominadas por percepções semi-mágicas, fortalecidas, organizadas e exploradas pela indústria da alienação religiosa, outro eixo fundamental da gestão das consciências. Condições miseráveis de vida e super-exploração são quase tidas como elementos semi-naturais.

No Brasil, a religião é o setor mais próspero da indústria da alienação, superando a própria mídia. Tanto que tem abocanhado vorazmente crescentes posições desta última, especialmente em televisão e rádio. Destaquem-se os laços e enormes concessões de Lula da Silva e do PT ao setor religioso, tradicional e emergente, e o atual crack dos miseráveis, no passado combatido pelas forças republicanas e socialistas, que se acomodam agora gostosamente a ele.

CC: Essa situação de alienação possui conseqüências outras que as políticas?

MM: Enormes parcelas da população compram mercadorias modernas, pagando diversas vezes o preço, preocupadas apenas com o valor das prestações. Atingidas pelo desemprego, desastres climáticos, crises ambientais, surtos epidemiológicos, violência urbana, embocam saídas individuais e voltam os olhos aos céus, não conseguindo enxergar as responsabilidades do capital e do Estado por suas mazelas.

O fato de que o Brasil seja campeão da desigualdade – somos o septuagésimo país no Índice de Desenvolvimento Humano! – constitui um trunfo para o capital, pois lhe permite trabalhar com mão-de-obra de produtividade que se aproxima cada vez mais da belga, pagando salários diretos e indiretos indianos. As próprias políticas focalizadas objetivam expandir o consumo, minorar a violência, diminuir a migração para a cidade e manter parte da população nacional trabalhadora como permanentes lúmpens modernos, como enfermos em semi-coma sem fim.

A expansão governamental das políticas focalizadas, enquanto o salário mínimo é arbitrado em 510 reais, fortemente abaixo do seu valor real, garante essa violenta extração de mais-valia e dificulta uma inserção econômica para uma enorme parte da população, que lhe permitiria estabelecer laços estáveis com o mundo do trabalho constituído e organizado e, nesse processo, expandir suas forças sociais e vitais, adquirindo visões e práticas crescentemente racionais e cidadãs.

CC: O otimismo atual a que referi não é, portanto, justificado. O que espera o Brasil em 2010 e nos próximos anos?

MM: Antes da crise, nos anos de ouro (2002-2008), as taxas de crescimento do Brasil foram significativamente menores do que as de países emergentes como a China, a Índia, a Argentina, a Venezuela. E agora, a retomada econômica está sendo e será mais tímida do que na maior parte daqueles países. China e Índia seguiram crescendo durante a crise! O que permitiu que a recessão do Brasil, exportador de commodities, não fosse ainda pior.

O arremedo de combate à crise praticado no mundo repetiu-se em forma ainda mais patética no Brasil, onde o sistema financeiro não fora abalado tão profundamente, devido à importância dos bancos estatais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES), por estarmos no início da fase de endividamento popular e pela enorme lucratividade normal do sistema bancário etc.

Também no Brasil o Estado escancarou a bolsa ao capital bancário, financeiro e industrial hegemônicos, com benesses também sem contrapartidas – empréstimos, renúncia fiscal etc. Apoiou o consumo interno com medidas focalizadas, gastos públicos, facilidade de endividamento... Ao contrário do resto do mundo, a taxa básica de juros foi reduzida com atraso e timidamente, mantendo-se sempre uma das maiores do mundo. E logo, logo, voltará a aumentar!

Os juros reais elevados, pagos com a exploração e miséria popular, seguiram garantindo uma enorme lucratividade ao capital financeiro e a atração de capitais especulativos, o que permitiu retomada da bolsa de valores, com lucratividade real já superior à das empresas, em reinício da embriagadora produção de capital fictício! A conseqüente valorização do real deprime os preços internos, através da expansão das importações – no fim de ano, muita gente pôde comer bacalhau, viajar ao exterior, comprar bugigangas importadas! Tudo à custa da precipitação das exportações e da inflexão da balança comercial, em momento de queda da receita pública!

CC: Mas o governo está afirmando que a economia se voltará finalmente para o mercado interno!

MM: A política de reorientação da produção ao exterior, inaugurada pela ditadura militar e radicalizada nas últimas décadas, separou geográfica e socialmente a produção de mercadorias no Brasil, a baixo custo, de sua realização, no mercado mundial. A depressão do valor do salário impulsionou sempre uma produção de costas ao mercado interno. A retomada da produção mundial será limitada, com inflexão do mercado mundial, crescentemente competitivo, sobretudo com a possível expansão das exportações dos EUA e sua retração como grande consumidor mundial, impulsionada pela queda do dólar e o desemprego de dez por cento da população ativa.

A valorização do real; os juros altos; o esgotamento da capacidade de endividamento popular; os limites das políticas focalizadas, devido à queda da receita pública; a interrupção da reforma agrária; a arbitragem somítica do salário mínimo etc. são registros de que o mercado interno continuará sendo desemboco secundário incapaz de substituir o recuo das exportações.

CC: Por que, então, se prossegue nesta política?

MM: A valorização do real facilita as importações, deprimindo os preços internos, segurando a inflação, facilitando as viagens ao exterior e a compra de importados e, sobretudo, assegurando o pagamento da dívida pública. Tudo isso contribui para euforia que certamente será cultivada com carinho em 2010, ano da corrida presidencial. O custo dessa política é desindustrialização e endividamento, de gravíssimas seqüelas em médio prazo. Porém, convenhamos, se as expectativas da renda petroleira, devido às reservas do pré-sal, se realizarem, essa política terminará sendo ótimo meio para transferir parte da mesma ao capital financeiro, através do pagamento da dívida!

CC: Em início de 2009, você se referia à "enorme fragilidade política, ideológica e organizacional do mundo do trabalho", propondo que "o espaço político da esquerda tenderia a ser ocupado por representantes e propostas de segmentos sociais, sobretudo médios", "com contradições não essenciais com a ordem capitalista". A candidatura de Marina Silva seria emblemática desse contexto?

MM: As tendências de enfraquecimento do mundo do trabalho e monopolização da esquerda pelas classes médias aprofundaram-se em 2009. Marina Silva é caso político emblemático desse processo, mais amplo. Isoladamente, sua candidatura constitui apenas retorno oportunista e revanchista de ministra defenestrada pelo governo, fogueada pela inesperada vitória do outsider Obama. Ela é negra, mulher, ecologista, de origem pobre, e com permanência no governo que certifica afinidade com o capital!

Sem qualquer possibilidade de emplacar, Marina Silva projetará o PV e, espera-se, empurrará a candidatura de Serra. Ela tornou-se emblema da crise da esquerda socialista, classista e marxista quando sua postulação foi abraçada por Heloísa Helena, Luciana Genro e outros segmentos importantes do PSOL, em radicalização de inflexão mais antiga das posições classistas naquele partido, que tiveram registro exemplar no financiamento da campanha do PSOL rio-grandense (MÊS) pela Gerdau, em 2008.

As eleições de 2006 resultaram em expressiva votação de Heloísa Helena – terceira colocada, quase sete por cento dos votos – e derrota da Frente de Esquerda que jamais se aproximou do que se propusera. Já na formação da coligação, a direção psolista impôs sem discussão a candidatura de Heloísa Helena e, a seguir, de vice que, descomprometido com a Frente, lançou programa de governo desenvolvimentista-burguês, também sem qualquer consulta.

Com o início da campanha, a receptividade da candidata ensejou viés eleitoreiro, moralista e demagógico, sob a ilusão de chegada ao segundo turno. A priorização da denúncia da corrupção ensejou que a campanha terminasse resultando em mero pronunciamento moralizador, de cunho democrático-burguês, sem continuidade, de eleitorado majoritariamente oriundo das classes médias, em vez de difusão política e centralização orgânica de consenso anti-capitalista popular.

CC: Você vê a campanha da Frente de Esquerda de 2006 como uma derrota?

MM: A impossibilidade do uso da campanha para educação-organização popular; a desqualificação programática; a dissolução do bloco após o pleito etc. registraram o fiasco da iniciativa, apesar do volume de votos do primeiro turno, não transferido proporcionalmente aos candidatos da Frente. Após o pleito, setores do PSOL, a direção do PSTU, criticaram duramente o eleitoralismo da campanha. Em 2009, em vez de superação dos desvios, impôs-se regressão programática e organizativa.

Cansada do jejum de dois anos de mandato e de outros dois como vereadora de capital marginal, Heloísa Helena definiu como meta pessoal indiscutível a reconquista da sinecura senatorial, negando-se a apresentar-se novamente como candidata. Sua decisão enfraquecia os projetos parlamentares, não apenas da ala conservadora do PSOL, mas abria a possibilidade de candidatura classista e socialista retomando a proposta inicial de 2006. Paradoxalmente, o PSTU se dissociou desse projeto classista ao defender a candidatura de Heloísa Helena, devido ao seu cacife eleitoral que, desta vez, não qualificou.

Transferida a decisão para convenção do PSOL em março de 2010, o apoio à Marina Silva perde força naquele partido, por ela ser ex-petista e ex-ministra de Lula da Silva e o PV, partido fisiológico. O perigo da ruptura do PSOL, no caso dessa coligação, permite que avance proposta de candidato classista e socialista do PSOL e, eventualmente, da Frente de Esquerda reconstruída, com adesão formal dos apoiadores de Marina psolistas.

O nome mais forte para candidatura classista e socialista é certamente o do velho combatente Plínio Arruda Sampaio, que empolga e recolhe consenso em área mais ampla que a do PSOL e da Frente de Esquerda. Caso se imponha essa solução, teríamos que lamentar apenas os valiosos meses perdidos de intervenção política, talvez pedágio exigido para permitir-se candidatura de esquerda, permanecendo a necessária e imprescindível incorporação à Frente do PSTU, que lançou a pré-candidatura de seu presidente nacional, José Maria de Almeida.

CC: Na entrevista citada, você mencionava ainda que, ao lado das contradições passadas e estruturais do Brasil, a derrota histórica do trabalho, em fins dos anos 1980, levou à descrença geral na revolução e no socialismo.

MM: A derrota histórica de fins dos anos 1980 destruiu os Estados operários, lançando na guerra, miséria, desemprego, desassistência, super-exploração centenas de milhões de trabalhadores. O inverno europeu já matou dezenas de "moradores de rua" na Polônia, categoria inexistente antes daqueles sucessos, como os hiper-milionários, tão festejados pela grande imprensa. No mundo capitalista, as privatizações, perdas de direitos, desregulamentação do trabalho, produção, mercado etc. ensejaram e continuam ensejando igualmente verdadeira hecatombe social, com destaque para as novas gerações e os segmentos sociais mais frágeis.

Essa derrota acelerou a dissolução e reconversão neoliberal de partidos e sindicatos, com o caso exemplar do poderoso PCI, hoje Partido Democrata pró-capitalista, inspirado no homônimo estadunidense, e a debandada ou inflexão de intelectuais, políticos e sindicalistas com anterior referência no mundo do trabalho! Esse retrocesso abateu-se duramente sobre as visões e projetos de mundo do trabalho. Desprestigiaram-se os princípios da solidariedade, fraternidade, igualdade etc. Mesmo organizações que se reivindicam como revolucionárias acomodam-se à subsistência semi-vegetativa em ordem capitalista já naturalizada, abandonando a luta pelo poder, mesmo como referência.

A derrota do trabalho vem sendo apresentada e compreendida maciçamente como fim definitivo da possibilidade de reorganização racional do mundo, precisamente quando a ordem socialista se mostra como única barreira à barbarização que ameaça em forma cada vez mais candente a própria sobrevida da humanidade. Com a destruição da memória dos anos de luta, de construções e de vitórias dos trabalhadores, toda uma geração cresceu aleitada pelo fundamentalismo capitalista.

CC: Como você antevê a possibilidade de organização efetiva contra essa realidade das forças socialistas nesse ano eleitoral?

MM: Nos últimos anos, devido à descrença no projeto de superação essencial e socialista da crise capitalista, mesmo ali onde os trabalhadores derrotam a burguesia ou alcançam importantes vitórias conjunturais, como na Argentina, Venezuela, Bolívia, as classes oprimidas não arriscam tomar o poder, permitindo a hegemonia de soluções burguesas e pequeno-burguesas, como o indianismo, bolivarismo, o islamismo etc.

Essa profunda fragilidade subjetiva não será superada com discussão política ou reunificação de militantes, mas a partir de vitória objetiva e referencial, mesmo limitada, do mundo do trabalho. Porém, a ação consciente e organizada de vanguarda política, intimamente ligada ao movimento social, facilitaria certamente esse evento. Vanguarda dispersa e confusa devido à fragilidade subjetiva e objetiva do trabalho. A contra-revolução também é permanente.

CC: Existiria partido político no Brasil capaz de aglutinar as forças de esquerda em torno de plataforma política mínima inicial que defenda as camadas mais pobres? O PSOL satisfaria essa condição?

MM: A mobilização em defesa, no aqui e agora, dos direitos básicos dos mais explorados é eixo fundamental da ação do mundo do trabalho. Intervenção que deve ser deduzida dos sentidos profundos e necessidades estratégicas, para que signifique emancipação e não submissão. "Fome Zero", "políticas compensatórias", "cotas raciais" etc. constituem soluções imediatas aparentes que mantêm na miséria e na exploração multidões de necessitados. Impõe-se a construção de organização revolucionária que intervenha conjuntural e estrategicamente na defesa dos trabalhadores.

Creio que o PSOL jamais constituirá o núcleo organizador dessa organização. Ele nasceu sob a hegemonia de grupos parlamentaristas e colaboracionistas que cercearam, desde o início, ao igual que o PT, a proposta de gestão do partido pela militância nucleada. Os militantes revolucionários que nele se encontram concentram suas forças na oposição aos setores hegemônicos, que ditam a ação nacional e visível do partido, voltados à integração à sociedade de classe. O que permite que agreguem, a cada eleição, parlamentares, visibilidade e os enormes recursos públicos que denunciam sem deixar de embolsá-los. A esquerda termina desempenhando no PSOL o mesmo papel justificador e neutralizador que desempenhava no PT, no relativo à construção de um partido para os trabalhadores.

O PSTU é hoje a principal organização marxista-revolucionária do Brasil, com a canibalização do lambertismo e mandelismo pelo PT. Apesar dessa indiscutível vitória, jamais conseguiu superar o isolamento político-social. É tradicional a fragilidade política do PSTU que, na sua já muito longa vida – quase quarenta anos, desde a Liga Operária, fundada em 1972 –, jamais empreendeu leitura original da realidade brasileira, apoiado na visão morenista simplista de que o "Programa de transição" resolveu todas as questões do capitalismo contemporâneo.

O PSTU sobrevive como agrupamento estudantil e sindical que, para manter as posições conquistadas, começa a abandonar as políticas classistas – política de cotas; sindicalismo corporativista e vermelho etc. É igualmente forte o espírito de corpo nessa importante organização, através de auto-proclamação revolucionária e, agora, culto ao morenismo, realidades que dificultam sua interlocução com a sociedade e com a vanguarda social.

O PCB vive situação singular. Enquanto as organizações de esquerda deslizam gostosamente para a direita, ele coroou verdadeira evolução revolucionária, a partir de posições colaboracionistas. Com o programa de "reconstrução revolucionária", sancionada no recente 14º Congresso, em esforço intelectual denso, superou as propostas colaboracionistas, etapistas e frente-populistas do longo período stalinista e burocrático.

Nesse processo, serviu-se com honestidade e sem pejo do aparato categorial marxista-revolucionário – "revolução permanente"; "dualidade de poderes"; "programa de transição" etc. –, construiu reflexão sobre a formação social brasileira que permite sólida base para discussão horizontal com a esquerda marxista revolucionária. O que é, convenhamos, uma enorme novidade para a esquerda brasileira marxista. Porém, não conseguiu concretizar esse salto gigantesco, ao resgatar no mesmo congresso a ação das direções stalinistas e burocráticas mundiais, em negação indiscutível da crítica realizada no que se refere à estratégia e à formação social brasileira.

Um resgate de uma trajetória e tradição que talvez indique que sua direção compreenda a reunificação dos comunistas revolucionários como, sobretudo, repescagem dos grupos e dos militantes do velho PCB, que se reivindicam da revolução ainda fora do novo PCB. O que certamente terminaria ameaçando e esterilizando os históricos avanços programáticos obtidos, ao deixar entrar de contrabando e silenciosamente pela janela o que se lançou, a muito custo, oficialmente, pela porta.

CC: A campanha eleitoral poderia ter um papel nesse processo de construção partidária?

MM: A campanha eleitoral pode ser momento de discussão e ação conjunta, que enseje reunificação programática e, nesse processo, agrupamento organizacional, em patamar superior, através do rompimento da militância do PSOL com o colaboracionismo, da superação do autismo do PSTU e da impulsão de refundação revolucionária pelo PCB que não se esgote em uma simples auto-complacência.

Movimento que certamente incorporaria à militância organizada uma enorme quantidade de trabalhadores, intelectuais, populares, membros dos movimentos sociais, pequenas organizações revolucionárias, todos dispersos, desorganizados, confundidos, com escassa capacidade de intervenção e que mantêm como referência o mundo do trabalho, o socialismo, a revolução. Um quase sonho, não?

CC: A crítica de esquerda assinalou a desmobilização social a que o governo Lula induziu o movimento social, acorrentando-o às políticas assistencialistas e focalizadas. Porém, muitos acreditam que a eleição de um tucano conduziria o país a situação ainda mais crítica. Como vê esse debate?

MM: Trata-se como sempre da "política do mal menor". Na passada eleição, a defesa de que com Lula da Silva era ruim, mas com Alckmin pior, permitiu que movimentos sociais apoiassem a reeleição, com os resultados conhecidos: desemprego, subemprego, salários que seguem miseráveis; caos na Previdência, na saúde, na segurança; transferência de renda do trabalho ao capital; desassistência nas crises climáticas, epidemiológicas; interrupção da reforma agrária e ausência de reforma urbana; crescente alienação popular; desorganização dos movimentos sociais etc.

Porém, não creio que essa retórica conquiste consenso, sobretudo com Serra como candidato contra Dilma Rousseff e um vice do PMDB, possivelmente assustador! Em 2006, o capital liquidou as possibilidades de vitória da direita tradicional, apresentando o espanta-voto do Alckmin. A situação hoje é diversa. Serra foi homem de esquerda e mantém viés burguês-desenvolvimentista. Como, sobretudo, representante do grande capital industrial paulista, vai agitar questões capazes de atrair – com razão – parte da base governamental de esquerda e de centro-esquerda – luta contra os juros altos e o câmbio baixo, principalmente.

Se houve liquidação de candidatura, foi certamente a petista. Como Alckmin, por outras razões, Dilma é um verdadeiro Frankenstein eleitoral. É difícil encontrar político com menos carisma, capacidade de comunicação e raízes sociais do que a senhora ministra. E isso na era da televisão! Sem ser operação impossível, é aventura de altíssimo risco, para o PT. Mas certamente operação segura para Lula da Silva.

Ninguém me tira da cabeça que Lula da Silva propôs a Dilma para garantir, em caso de vitória ou derrota, sua volta triunfante em 2014. Um Tarso Genro ou um Ciro, com indiscutíveis maiores possibilidades de emplacar, tentariam bisar o mandato, lançando a possibilidade de nova candidatura de Lula para 2018, tempo politicamente já imprevisível. O interessante é a subserviência petista no relativo às decisões de Lula da Silva, que ameaça a nutritiva rapadura presidencial.

CC: Mediante uma correlação de forças adversas às classes trabalhadoras, como poderia, a seu ver, ser aberta a possibilidade de emergência de uma sociedade socialista no mundo e no Brasil? Que fatores poderiam apontar para uma linha otimista?

MM: A primeira onda da crise concluiu-se sem avanço dos trabalhadores, que terminaram pagando a conta. Não houve proposta do mundo do trabalho para a superação da crise, quando estavam dadas as melhores condições. O mesmo acontece com a crise climática, na qual o imediatismo intrínseco da acumulação capitalista liquidou com possibilidade de medidas mesmo paliativas e conjunturais, com os vetos peremptórios dos EUA e da China a qualquer medida efetiva.

O imperialismo estadunidense avançou indiscutivelmente no Iraque; conseguiu organizar importante oposição interna pró-burguesa e pró-imperialista no Irã, ajudada pelo fundamentalismo e conservadorismo governamentais; depôs Zelaya em Honduras; expandiu as bases militares na Colômbia, em comprovação de que já retornou à América Latina, onde fará igualmente sentir sua pressão exportadora em forma ainda mais forte nessa área privilegiada das exportações de mercadorias industrializadas produzidas no Brasil.

A oposição do governo Lula da Silva aos EUA nessas crises, sobretudo em Honduras e na Colômbia, em defesa dos enormes interesses nessas regiões dos segmentos exportadores nacionais de manufaturados – é precisamente ali onde o Brasil obtém seus maiores superávits comerciais com a venda de produtos industrializados –, mostrou-se inconseqüente.

Alemanha, França, Itália, Rússia e Israel são governados por conservadores. No Chile, a direita clássica prepara-se para vencer pelo voto popular, após longos anos de gestão social-liberal e democrático-cristã. Obama segue impondo sua política imperialista sob os aplausos mundiais.

Chávez, Evo Morales etc. propõem como único caminho para continuar suas revoluções uma nova reeleição. Prossegue e se acelera a restauração capitalista em Cuba, Vietnã e China. No Brasil, Lula da Silva é o presidente de maior consenso popular. A conjuntura nacional e mundial não está fácil, não deixando espaço para otimismo. Impõe-se, portanto, deixar de lado as ilusões de juventude, as intenções piedosas, os idealismos inconseqüentes, e cair na real, compreendendo que não há outra solução para as mazelas sociais e individuais que não as socialistas!

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

Battisti

O Sentido Político do Caso Battisti‏
De: informe-consciencia@googlegroups.com em nome de Consciência.Net (pauta@consciencia.net)
Enviada: sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 0:59:33
Para: Informe Consciência (Informe-Consciencia@googlegroups.com)
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O Sentido Político do Caso Battisti
Por Carlos Lungarzo em 07/01/2010

Entre os que apóiam a liberdade de Battisti e os que promovem seu linchamento, há um grande grupo que duvida. A diferença entre linchadores e indecisos aparece quando se fala no modo de punição. Pessoas desorientadas, porém sensíveis, sentem horror de que alguém possa estar preso a vida toda num sistema que o levará à loucura ou a suicídio.
Entretanto, os que não têm oportunidade nem tempo para acompanhar os detalhes, acham difícil acreditar que um país europeu lance uma acusação sem fundamento. Alguns, nem conseguem admitir que a Suprema Corte de nosso país possa estar complicada num assunto ilegítimo.
Em alguns setores, a indignação italiana tem produzido o efeito oposto. Muitos se assustaram quando ouviram as ameaças de crises diplomáticas, retaliações econômicas e desportivas e até de guerra (como as proferidas pelo exaltado Franco Maccari, secretário geral do sindicato de policiais COISP). Tudo isso por um crime comum? Não são poucos os que perceberam que ninguém faria um escândalo tão ridículo, cheio de pieguice e xingamentos chulos, se tivesse argumentos bons.
Quero enfatizar, para os que duvidam sobre a inocência de Battisti, o caráter POLÍTICO do seu julgamento. Não descarto a existência adicional de outro tipo de interesses, como rancores e vaidades coletivas, catástrofes de psicologia social como sede de sangue, sentimento imperialista frustrado e patologias sociais das mais variadas, mas o aspecto político é fundamental.
Há um indício que mostra claramente o objetivo político desta farsa: nunca nenhum setor da direita se preocupou em tentar refutar ou desmentir as afirmações de que não existem provas contra Battisti.
Isto é muito importante, e se vocês revisam os comentários dos jornais, revistas e TV deste último ano, poderão ver que quase nenhum “linchador” se dá ao trabalho de polemizar contra os que afirmamos a falta total de provas e testemunhos. Eles se limitam a ironizar, acusar de cumplicidade, e montar um circo romano contra os que ofendem as instituições italianas. Nem mesmo mencionam duas ou três “provas” (reais ou não) para, pelo menos, simular que acreditam que Battisti é culpado. Vejamos alguns casos desta ostentação de desinteresse.
(1) No relatório do STF, seu autor descreve os quatro assassinatos na forma grotesca de um filme policial de péssima qualidade. Aí, Battisti é descrito como um insano sanguinário, que se disfarça com barba, peruca, jaqueta de camurça, sapatos de salto e mata pelas costas enquanto namora. Mas o relator não se importa em convencer, pois nem toma o cuidado básico de eliminar contradições óbvias: armas, número de tiros, cor de cabelos, e até os atores dos crimes, aparecem de maneira incompatível em diversos trechos do relatório.
(2) No Senado, Eduardo Suplicy analisou com enorme paciência e energia, não uma, mas pelo menos cinco vezes, todas as matérias que Fred Vargas e eu publicamos (em separado) sobre a falta de base das acusações contra Cesare. Seus colegas do PSDB e, sobretudo, do DEM ou ignoravam, ou riam, ou liam, mas nunca refutavam nada. Os que com mais sanha acusam a Battisti de “assassino”, nunca se levantaram e disseram: “Não é assim como você fala. Têm testemunhas, sim, que são Luigi, Pino, Gianni, Assunta, etc… ”. Eles poderiam, pelo menos, fingir que acreditam na culpa do refugiado, decorando alguns nomes que aparecem nos documentos jurídicos italianos.
(3) Itália negou à defesa a entrega dos autos onde haveria pretensas “perícias”. A negativa é natural, pois essas perícias devem provar a autoria verdadeira dos crimes. Quando os amigos de Battisti exigiram do STF que pedissem essas provas a Itália, porque não poderia negá-las a um poder público, Peluso disse que o Tribunal não as precisava.
(4) Quando Fred Vargas leu suas 13 perguntas, e pediu ao relator que conseguisse os documentos e dados que ele tinha sonegado ou distorcido em seu relatório, este respondeu que não era assunto do Brasil o julgamento italiano.
(5) Os jornalistas mais famosos nunca tocam no assunto. Quando, raramente, respondem uma pergunta de um leitor questionador, ficam furiosos: “é um assassino, foi dito pelos italianos, os franceses e agora pelo STF, e ainda você duvida!”. Também, advogados da polícia e dos militares, e defensores de porta de cadeia oferecem as mesmas razões.
(6) Em novembro, um blog da Veja reagiu às reiteradas denúncias de Suplicy, declarando que existiam testemunhas sim, e uma era o filho de Torregiani. O blogueiro nem sabia que Alberto Torregiani, depois de mudar durante décadas, segundo as pressões da Promotoria, “estacionou” numa opinião coerente há mais de cinco anos: Battisti não estava no cenário de morte de seu pai, embora continue dizendo que ele é o assassino.
(7) Tampouco os juízes se interessam pela autoria dos crimes. Entre os inimigos fanáticos de Battisti há um ex-desembargador muito experiente em máfia italiana e colombiana. Seria a pessoa ideal para oferecer provas, ou, então, refutar nossas afirmações de que não há provas. Mas ele se limita a xingamentos políticos: repete dúzias de vezes que os revolucionários da época eram apenas bandidos, e que esquerdistas decentes são os que pedem a cabeça de Battisti, como d’Alema, Napolitano e outros “vira-casaca”.
(8) Quando o ministro Marco Aurélio mostrou que os únicos argumentos contra Cesare vinham de delatores e que os delitos eram qualificados como políticos pela própria Itália, alguns magistrados ignoraram. Na sessão seguinte, alguém disse que “não estamos julgando o mérito”. Ou seja, se Battisti matou ou não, tanto faz.
Bom, devemos fazer esta pergunta: “Se um cara foi condenado a 4 prisões perpétuas por 4 homicídios, por que não têm importância se ele foi ou não o assassino?”.
A resposta é simples: porque o objetivo da extradição brasileira e da condenação italiana é político (além dos componentes psicológicos, como “vendetta”).
Battisti, como milhões de jovens (talvez com métodos errados) ergueu-se contra a opressão das elites. Ele não foi diferente de um resistente brasileiro, argentino, uruguaio ou chileno, mesmo que a Itália fosse uma democracia, nem de um “Sem Terra” ou um bolivariano.
Então, tanto a Itália como a cúpula do STF e a direita brasileira querem fazer de Battisti um exemplo para espalhar o terror de estado. “Este é um esquerdista: não importa se matou ou não. Mas, ele servirá de exemplo para que aprendam os outros”. Aliás, se Cesare é inocente dos assassinatos, será ainda melhor para os julgadores. Porque, nesse caso, eles deixam perceber ao público de que o estão punindo por sua ideologia. Punir a ideologia é a forma mais atroz do terror de estado, pois significa que nem o pensamento foge à barbárie dos algozes. Sem afirmá-lo de maneira direta, o que daria muito escândalo, o STF deixa uma dica muito clara: “Se você matou ou não matou, não estamos nem aí. Você vai a apanhar a vida inteira porque pensa e fala contra nós”.
No Brasil e na Itália as motivações são políticas, mas há algumas diferenças regionais. No Brasil, punir Battisti significa um enorme grito de atenção para todos os “subversivos”. Os que admiram presidentes índios na Bolívia e no Equador, os que apóiam o freio à mídia golpista na Venezuela, os que lutam pela terra, denunciam o trabalho escravo e os genocídios dos ruralistas, põem em evidência o aparelhamento

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Israel

OS JUDEUS ERRANTES DO 3º MILÊNIO
Posted: 05 Jan 2010 07:01 AM PST
O judeu errante é um personagem mítico das tradições orais cristãs: um trabalhador de cortume ou oficina de sapateiro que teria hostlizado Jesus Cristo, quando passava carregando sua cruz. Como consequência, foi condenado a vagar pelo mundo até o fim dos tempos, sem nunca morrer.
Hoje, os judeus errantes são os representantes do estado de Israel: estão condenados a vagar pelo mundo sem receberem acolhida amistosa em lugar nenhum, fugindo da justiça, como réprobos da civilização, em decorrência dos massacres perpetrados contra os palestinos.
O paralelo me ocorreu ao ler que uma delegação de militares israelenses adiou visita ao Reino Unido porque seus integrantes temiam ser presos e acusados desses crimes.
Não estou inventando nem exagerando. O próprio vice-chanceler de Israel, Danny Ayalon, afirmou:
"Os militares foram convidados ao Reino Unido, porém permanecerão em Israel até que tenhamos 100% de certeza de que não serão objeto de denúncias judiciais naquele país".
O vice-ministro acrescentou que tentará convencer a procuradora geral britânica Patricia Janet Scotand da conveniência de reformar o princípio de competência universal incluído na legislação britânica, habilitando os juízes do Reino Unido a ordenarem a prisão de personalidades estrangeiras envolvidas com crimes de guerra ou contra a humanidade.
Pressionando descaradamente uma democracia, qual reles lobista, Ayalon insinuou que os interesses britânicos poderão ser alvos de retaliações:
"Esta legislação dá margem a todo tipo de equívocos. (...) Organizações terroristas como o Hamas a utilizam atualmente para tomar como reféns as democracias. É preciso acabar com esta situação absurda, que afeta as excelentes relações bilaterais israelo-britânicas [grifo meu]".
O que está por trás dessas pouco diplomáticas declarações é a ordem de prisão (aceita por um tribunal londrino no mês passado) contra Tzipi Livni, ex-chanceler e líder do partido de oposição Kadima -- um dos carrascos responsáveis pelos genocídios natalinos de um ano atrás na faixa de Gaza, quando o pogrom israelense deixou um saldo de 1.434 palestinos trucidados (incluindo 189 crianças e menores de 15 anos), contra apenas 13 agressores mortos.
Os próprios soldados israelenses, envergonhados e enojados, andaram denunciando as atrocidades que seu estado cometeu.
E o Conselho de Direitos Humanos da ONU publicou relatório no qual acusou Israel de ter usado força desproporcional e violado o direito humanitário internacional, cometendo "crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade".
Até tenistas de Israel tiveram de disputar a Copa Davis com os portões fechados, para serem preservados de possíveis manifestações de repúdio dos cidadãos suecos.
A pergunta final é: até quando os dirigentes atuais do estado judeu continuarão espezinhando as nobres tradições de um povo que já nos deu Marx, Freud, Trotsky, Einstein, Kafka, Proust, os kibutzim, o Bund, etc.?

Garis

Reportagem do Diário de São Paulo
“Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível”
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da “invisibilidade pública”. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social. Plinio Delphino, Diário de São Paulo, 23/04/2003.

Foto de Fernando Braga da Costa (à dir.) na Revista IstoÉ GenteO psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são “seres invisíveis, sem nome”.
Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da “invisibilidade pública”, ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”, explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. “Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão”, diz.
Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.
Diário – Como é que você teve essa idéia?
Fernando Braga da Costa – Meu orientador desde a graduação, o professor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas de avaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma de atividade profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica. Então, basicamente, profissões das classes pobres.
Com que objetivo?
A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitos dentro da sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizado agora no doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas que se operam no encontro do psicólogo social com os garis. Que barreiras são essas, que aberturas são essas, e como se dá a aproximação?
Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de um estudante fazendo pesquisa?
Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando lá eu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário, recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas os garis sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa típica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulatos em geral.
Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o diferencial, porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série de fatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos, o modo de a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira como gesticulamos. Os garis conseguem definir essa diferenças com algumas frases que são simplesmente formidáveis.
Dê um exemplo?
Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade, subindo a rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão. O sujeito passou pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações.
O gari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e começou a falar: “É Fernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já o pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando a gente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todo encolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima de toda a peãozada, segurando a pastinha na mão”.
Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você era diferente?
Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia de trabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari. Fui tratado de uma forma completamente diferente. Os garis são carregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também. Eles não deixaram eu viajar na caçamba, quiseram que eu fosse na cabine. Tive de insistir muito para poder viajar com eles na caçamba.
Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente. As vassouras eram todas muito velhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não me deixaram usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Eles fizeram questão de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmo assim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão de que os garis sabiam que eu não tinha a mesma origem socioeconômica deles.
Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?
Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.
Eles testaram você?
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço.
Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo.
No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: ‘E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?’ E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu.
Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando – professor meu – até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma coisa. //

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lula

O que uma menina de 15 anos pensa do Lula, do PT e da grande mídia… Essa é para começar o ano com esperança!
Publicado em 03/01/2010 por Ana Helena Tavares

Presidente Lula
Por Carolina Matos Leandro*, da Juventude do PT, em seu blog dedicado à política
Para aqueles adultos, que criticam o presidente Lula, ou que se dizem Anti-petistas, ou para aqueles jovens, que ainda não sabem muito da política, mas dizem que sabe, só por influência da mídia.
Olá. Pessoal, meu nome é Carol, e eu tenho 15 anos. Sim,ainda sou nova. Mas acreditem, isso não é um problema!
Vim aqui, explicar umas coisas, sobre a política que tenho certeza de que muitos adultos e jovens ainda não sabem.
O partido do Lula é o PT, certo? Então, logo o PT é da esquerda certo? Então vamos lá, pra quem não sabe:
Há muito tempo atrás a política foi dividia em esquerda, e direita. O partido da esquerda é dos os pobres, e o da direita é dos ricos. E sim, não ERA, mas É. E hoje, o partido da esquerda, inclui o PT, o PSB, o PCdoB. E o da direita, o PSDB, o PP, e o DEM. Os do centro, que são de vez em quando esquerda, e de vez em quando direita, são : PMDB (que é mais esquerda), PR(que é mais direita), e outros que não lembro agora. Tem os da extrema esquerda, que é o PSOL e o PSTU (acho que é só esses ,não tenho certeza se lembrei de todos agora).
Pois então, os partidos da DIREITA, e centro que acompanham mais a direita então vão defender, e apoiar a quem? OS RICOS, certo? Então, os partidos da ESQUERDA, e EXTREMA ESQUERDA,vão defender,e apoiar a quem? Os POBRES, certo?
Então digam-me uma coisa.. Mas porque vocês, vários adultos que conheço, que são de classe baixa e classe média, ficam aí defendendo os partidos de direita,mandando e-mail falando mal e mais mal do Lula, sendo que ele, foi o presidente do Brasil, que abaixou tanto o índice de pobreza no Brasil? E mesmos os ricos, que já têm tanto dinheiro, qual é o motivo de o criticarem? O que estou querendo dizer é,os pobres que precisam de maior atenção, pois são eles que trabalham duro pra ganhar tão pouco,são eles que passam fome, que não têm dinheiro suficiente para dar um almoço digno aos seus filhos. Porque quando o Lula falou, que essa crise aqui no Brasil é uma marolinha, ficaram achando tão ruim? Agora que sabem, que realmente foi uma marolinha, o que têm a dizer? Para os donos de empresas,indústrias, isso não afetou em nada. Mas eles não esperaram a hora de ter uma desculpinha para falar e de repente despedir vários empregados, só pra terem mais lucros, mais ainda do que têm. Lula não mentiu nem um pouco ao falar isso. E por que quando estão numa estrada ruim, esburacada que faz parte da federal, só criticam o Lula, sendo que nem pensam no desvio, que o governo ou o prefeito da cidade, pode muito bem ter feito? E por que ficam vendo tanto a globo, e acreditando em tantas reviradas que fazem contra o Lula, sendo que os donos da Globo são ricos, e como expliquei, os ricos criticam os partidos de esquerda, principalmente o PT, justo porque o governo PT é de esquerda, e está forte?
Pensem nisso!
*Obs: Carolina havia mandado este mesmo texto em versão reduzida para o fórum de comentários da aba superior “Brasil” deste blog “Quem tem medo do Lula?” em 26 de Junho de 2009. Como hoje, 03 de Janeiro de 2009, ela honrou-nos novamente com sua presença lá, dando o link do texto no blog dela, resolvi então reproduzir como postagem, pois vale a leitura.
Arquivado em: Brasil, PIG, Política | Etiquetado: Juventude, lula, PT |

Cinzas e Diamantes

De cinzas e diamantes
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Por Jorge Pinheiro






Disse o pregador: "Há tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz".

Memórias. Em setembro dei uma entrevista a uma historiadora, minha amiga, e a conversa me fez recordar os anos 60. E me lembrei que, em 1965, ali no cinema Paissandu, na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, travei um contato histórico com o melhor do cinema polonês, com o filme Cinzas e Diamantes (1958), o último filme da trilogia do diretor Andrzej Wajda sobre a Segunda Guerra Mundial.

O filme falou ao meu coração de jovem revolucionário, e foi gostoso ver como minhas leituras e sonhos se casavam com a estética de Wajda. Para quem não viu, a história de Cinzas e Diamantes acontece no último dia da guerra. Maciek, jovem membro da Resistência, interpretado por Zbigniew Cybulski, é militante do grupo que se opõe ao novo regime comunista e recebe ordem de matar um líder do PC. Maciek entra, então, em crise político-existencial: cumprir a ordem no momento em que a guerra chega ao fim ou rebelar-se. Não vou contar o filme, porque vale a pena você pegá-lo numa locadora. Mas é importante você saber que o pai de Wajda foi assassinado no início da guerra e que o próprio cineasta lutou na resistência contra os nazistas.

O filme foi baseado num romance de Jerzy Andrzejewski, um dos mais lidos da Polônia do pós-guerra. Esgotou vinte edições, sendo apontado como um dos mais importantes romances poloneses. Recebeu vários prêmios, entre eles da Academia Britânica de Cinema e do Festival de Cinema de Veneza, os dois em 1959. Mas, com a queda do regime, críticos se levantaram contra o romance de Andrzejewski e o filme de Wajda.

Nessa época, um dos expoentes da doutrina social da igreja católica, o padre Paul-Eugène Charbonneau, escrevia que "só uma verdadeira ordem social cristã (...) restituirá ao homem (...) sua liberdade total. Porque o combate social é um combate pela liberdade do homem, a qual nem o capitalismo, nem o comunismo respeitaram. Gorki tem toda a razão: Há muitos poucos homens livres no mundo, e é isso que faz a desgraça da humanidade".

Em 1967, eu me ligara a Ação Popular (AP) e, como estudante de Jornalismo da PUC/Rio, atuava no Centro Acadêmico das Ciências Sociais. Era uma época de boas discussões sobre a possibilidade do marxismo e do cristianismo caminharem em direção a um humanismo radical. A Ação Popular surgiu a partir do trabalho de antigos militantes da Juventude Universitária Católica (JUC).

Foi uma tentativa de construir um socialismo mais humano e, por isso, buscou inspiração em teólogos católicos como Teilhard de Chardin, Jacques Maritain e o padre Lebret. Teve também uma leitura protestante, cujo maior representante foi Paulo Stuart Wright. Foi de início uma organização predominantemente estudantil, e entre seus líderes podemos citar o Betinho (Herbert José de Souza), José Serra, Vinícius Caldeira Brant e Aldo Arantes. Sua mais expressiva liderança camponesa foi Manoel da Conceição, ativista das Ligas Camponesas.

Os debates na AP, apesar de interessantes, não me atraíam. Afinal, eu não me situava no campo da doutrina social da igreja. É certo que o tema da liberdade me sensibilizava, mas não o da religião. Era marxista, e tudo levava a crer que minha militância junto ao socialismo cristão da AP não deveria durar muito.

Para mim, religião era questão resolvida, pois concordava em gênero, número e grau com Marx. Ele, em suas obras filosóficas, mas especificamente na Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel, diz que “a miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real, e, de outro, o protesto contra a miséria real.” Hoje, a partir de Gramsci e de Dussel, faço uma nova leitura deste texto, mas, à época, não.

Por isso, partir para o enfrentamento com o regime militar era só uma questão de esperar, para ver onde se daria a seqüência de minha ação militante. Assim, no final de 1968, já não estava na Ação Popular. Tinha começado minha militância política no Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). Só que agora, além de estudante de Jornalismo na PUC, era também jornalista da revista Manchete.

Foi em 1968 que vi mais um lindo filme, também ali no cine Paissandu: Trens Estreitamente Vigiados (1967), dos checos Jiri Menzel e Bohumi Hrabal, premiado com o Oscar da Academia de Hollywood como melhor filme estrangeiro de 1968.

Trens Estreitamente Vigiados também foi baseado em livro, do escritor Hrabal, uma obra autobiográfica. Nele, Hrabal traça um paralelo entre o sofrimento do povo checo debaixo da ocupação nazista e a desilusão de um jovem envolvido com conterrâneos que colaboram com os nazistas.

Hrabal viveu anos difíceis por causa de seu clamor e sua independência. Mas três milhões de leitores checos o amavam, e a crítica internacional acabou por descobri-lo. E as razões de seu sucesso também tocaram fundo meu coração, seu existencialismo explícito e sua resistência permanente ao totalitarismo.

Anos mais tarde, escrevendo sobre arte e revolução, Marcuse traduziria essa relação ao dizer que a arte, em virtude de sua própria qualidade subversiva, está associada à consciência revolucionária. Mas, agregava: quando a consciência de uma classe é integrada e embotada, a arte revolucionária será o seu oposto. E dava um exemplo que me obrigou a refletir sobre a União Soviética: onde os trabalhadores forem não-revolucionários, a arte revolucionária não será arte proletária.

A busca da compreensão dessa dialética abriu o caminho para a leitura de textos que iam de Trotsky à nova esquerda norte-americana. Memórias.

Talvez por isso o pregador deu seqüência ao seu discurso sobre o tempo, dizendo: "Deus marcou o tempo certo para cada coisa. Ele nos deu o desejo de entender as coisas que já aconteceram e as que ainda vão acontecer, porém não nos deixa compreender completamente o que ele faz".

12/7/2008

Mais sobre Jorge Pinheiro

Sobre Novela de memórias: um pedaço de mim, obra recente de Jorge Pinheiro, leia: www.viapolitica.com.br/anima_view...

Battisti

Os “argumentos” contra Battisti
Por Carlos Lungarzo em 04/01/2010
Anistia Internacional

Há uma tendência na esquerda, e entre os partidários de tendências iluministas, humanistas e libertárias em geral a identificar a qualidade ética de uma pessoa com sua inteligência, agudeza e informação. Isto parece uma adesão à antiga identidade entre o bem e a razão ou, em termos mais modernos, entre o espírito humanitário e altruísta e a capacidade de argumentação.
Esta identificação está presente nos filósofos gregos, especialmente em Platão, mas também nos hedonistas e nos epicúreos, atravessa a obra de Descartes, vira um assunto central nos cientistas pós-newtonianos, e se torna quase um dogma para a geração Iluminista do século 18. Este intelectualismo está presente nas cartas trocadas por Marx e Engels, que não ocultavam seu desprezo pelos raciocínios grosseiros das elites, pela ignorância de nobres, militares e burocratas e pela barbárie cultural da direita. Inclusive, apesar de sua injusta desconfiança do anarquismo, Marx emocionou-se até chorar ao lembrar o talento de Bakunin, durante o funeral deste em 02/09/1853. (Marx-Engels-Werke, V. 12, p. 284).
Outro fato que reafirma, pela negativa, a relação entre ética e inteligência, é que, durante o forte misticismo ocidental (sec. 4º ao 16º) quando o ser humano foi mais humilhado, ao mesmo tempo a ciência e o conhecimento crítico desapareceram até Galileu.
Entretanto, não é possível tomar a relação moral/inteligência como uma verdade absoluta. Isso criaria uma hierarquia moral das pessoas em função de suas capacidades, o que é uma visão reacionária do mundo. Lembremos, além disso, que simpatizantes do nazismo, como Max Plank e Heisenberg, foram mentes brilhantes em suas especialidade e que Enrico Fermi foi um homem muito inteligente, apesar de ter contribuído a criar a primeira bomba nuclear.
Em minha opinião, a relação precisa entre inteligência e ética é difícil de especificar e talvez precisemos muitas décadas de psicologia para conhece-la num 50%, se tanto. Entretanto, é evidente uma conexão estreita entre ambas, como o mostram os exemplos: é quase impossível encontrar um ditador inteligente, um genocida com algum talento universal, um racista com alguma compreensão do mundo, uma pessoa preconceituosa que impressione por sua racionalidade. Existem muitos casos de pessoas sem escrúpulos com grandes destrezas específicas, mas é difícil encontrar algumas dotadas de inteligência ampla.
Por que toda esta reflexão? Há um ano que, por causa da concessão de seu refúgio/asilo, Cesare Battisti virou conhecido e a opinião pública se dividiu entre os que pediam sua liberdade e os que exigiam sua deportação. Durante este ano, li o equivalente a dúzias de milhares de páginas de jornais, revistas e documentos, e fiquei estarrecido ao fazer uma comprovação:
Nenhum dos argumentos contra Battisti demonstrava a mínima racionalidade, o menor uso de pensamento ou sensibilidade. Como disse antes, não acho que uma cognição apurada implique necessariamente grande estatura moral, nem vice-versa, mas fiquei apavorado pela relação evidente entre pensamento brutal e grosseiro com ódio pelo refugiado.
Acredito, sim, que existam pessoas autocentradas, sem interesse no próximo, que possuam uma visão do mundo bastante ampla. Um destes casos era Leonardo da Vinci, considerado por seus biógrafos mais atuais como egoísta e violento.
Entretanto, as coisas mudam quando aparece um componente de ódio, uma espécie de fanatismo contra tudo o que é diferente, como o que caracteriza o machismo, o racismo, a xenofobia, o imperialismo, o linchamento e todos os sentimentos de direita em geral. Nesses casos, ou a inteligência não é suficiente para evitar a contaminação pelo ódio, ou então, a prevalência do ódio faz aparecer a inteligência como difusa, esvaída, quase inexistente.
Não quero dizer que alguém que sustenta uma posição não-humanitária possua, necessariamente, um entendimento tacanho, embora isso quase sempre acontece. Tenho uma experiência interessante sobre isso. Conheci a Ayres Britto depois de ele ter votado pela extradição, e me surpreendi ao compara-lo com os outros quatro juízes que votaram no mesmo sentido (com os que, afortunadamente, não devi conversar). Britto é um homem cordial, desprovido da empáfia jurídica, um temperamento simples: escreve poesia e gosta de Chico Buarque. Sabe conversar sobre coisas que não estão nos códigos. Aliás, ele não tinha nenhum ódio contra Battisti. Se eu entendi bem, ele achou que não havia motivos para negar a extradição, assim de simples. Se Itália o pedia, saberia por que. Não era submissão à autoridade, apenas rotina. Se alguém morria por isso, não era seu assunto.
Ele não estava contente por entregar uma vítima aos La Russa e os d’Alema da vida. Simplesmente, fez o que parecia mais linear. Afinal, a justiça formal é isso. Então, percebi que era uma pessoa inteligente que não camuflava seus pensamentos: justiça formal nada tem a ver com verdade ou humanismo; é um trabalho.
Mas, não quero referir-me aos que apenas “votariam” contra Battisti, mas aos que estão engajados na causa de triturar uma pessoa para eles desconhecida, que lês estorva por vários motivos:
(1) Porque representa a esquerda. (2) Porque desafia sem temor o terrorismo de estado. (3) Porque não se ajoelha. (4) Porque é uma mente criativa. (5) Porque têm amigos de uma qualidade que seus inimigos nunca reuniriam nem em várias reencarnações. A maior atriz européia dos anos 50, Jeanne Moreau, o Nobel de Literatura Garcia Marques, a talvez maior romancista de enredos policiais das últimas décadas, Fred Vargas, grandes advogados, líderes políticos franceses, e também os melhores amigos brasileiros: Suplicy, José Nery, Luiz Couto e outros.
Essas pessoas que odeiam Battisti não conseguem produzir um argumento bom. Foi por isso que decidi classificar os “argumentos” contra Battisti em várias espécies. Acredito, porém, que esta é uma obra para toda uma equipe e quaisquer enriquecimentos a meu trabalho (muito pretensioso para uma vida só) serão bem-vindos.
Observação: Não gosto de entrar em polêmicas. Se você defende honestamente, de maneira errada ou certa, uma causa, o pior que pode fazer é tornar sua causa um espetáculo de circo. Por isso também não gosto citar ninguém, salvo fontes de mérito que menciono como prova. Neste caso deve ser diferente, mas apenas menciono os autores para que o leitor, se quiser, possa encontrar o assunto mencionado.
A Crítica Através do Elogio
Em alguns casos, o crítico (ou crítica) acha mais confortável elogiar a alguém que ataca Battisti, do que ele próprio fazer sua argumentação. No caso de pessoas ligadas ao direito, uma maneira habitual é tecer uma série mirabolante de elogios a qualquer frase trivial que tenha dito um magistrado inimigo do escritor italiano.
É o caso, entre milhares de outros, do senhor Daniel Bialski, num trabalho intitulado Interesse em Extradição de Battisti é incomum, que me pareceu o mais paradigmático pela bizarrice e servilismo de seus elogios.
http://br.groups.yahoo.com/group/niem_rj/message/5573
“O que se teria visto, na visão do eminente e futuro presidente da Corte Suprema, ministro Peluso, [...] que é atribuição exclusiva da Excelsa Corte.” (Grifos meus)
Existem muitos outros casos que não merecem ser citados, porque não são tão grotescos, mas em todos eles se elogia cafonamente, seja o magistrado, seja a “obra da sua lavra” (ou seja, o escrito de sua autoria). Dessa maneira, se dá um tiro por elevação contra Battisti, usando munição alheia.
Este fenômeno faz parte de um fetichismo, pelo qual se transformam em reais, e até em antropomórficas, entidades que são puras abstrações conceituais. Por exemplo, se elogia a cultura italiana, como se toda Itália fosse um organismo homogêneo que atua sempre da mesma maneira, ou se atribui sacralidade a simples funções profissionais de uma pessoa, por exemplo: “o sábio julgador”.
Comparações Sinistras
Às vezes, para descompor Battisti, os autores usam comparações que são simplesmente repugnantes. É o caso de Alon Feuerwerker, em Diversos pesos, diversas medidas, cuja matéria começa assim:
http://br.groups.yahoo.com/group/niem_rj/message/5573
“A operação política para salvar Battisti decorre de ele ter origem na esquerda. Fosse um militar argentino condenado por crimes na ditadura, estariam os mesmos exigindo, já, sua extradição para Buenos Aires.”
Essa comparação não mede só o nível ético do autor, mas também o cognitivo. Alguém que compara um acusado qualquer (mesmo se fosse o pior criminal comum do mundo, mesmo se fosse o atual chefe de Al-Qaida), com genocidas patológicos e torturadores insanos do exército argentino, demonstra pouca fineza cognitiva. A maioria dos que concedem algum valor aos genocidas argentinos, chilenos ou brasileiros (ao ponto de comparar-los com outras pessoas), costumam ter a esperteza de ocultar suas intenções.
Uma pessoa melhor dotada teria dito: “fosse um fascista…” Aliás, estaria perto da realidade, porque há um fascista italiano que seu governo “simula” querer extraditar. Aliás, para dar palpite num assunto que parece ser sobre direito, o autor conhece pouco: parece que não sabe que “crimes de lesa humanidade” são uma espécie diferente dos políticos e dos comuns.
A posição dos defensores de DH é que, se o fascista não cometeu crimes contra humanidade, deve receber a mesma proteção que Battisti, caso que realmente a Itália o quisesse extraditar, o que parece ridículo.
A Linguagem Injuriosa
Um terrorista, por definição, é uma pessoa que pratica terrorismo. É difícil que alguém que esteja fechado numa prisão durante o dia todo pratique terrorismo. Entretanto, a Folha de S. Paulo chama Battisti de terrorista desde que caiu preso. Um amigo meu mando uma carta à Folha e, como jornal aberto e respeitoso da liberdade de imprensa, substituiu “terrorista” por “ex-terrorista” por algumas semanas. (Posteriormente, voltou a usar terrorista, que causa mais impacto).
Além disso, terrorismo é um termo definido numa comunicação das Nações Unidas que, apesar de não estar aprovada por todos os membros, tem ampla credibilidade. Mas, se os jornalistas querem usar uma definição vernácula, podem ler a ementa de Extradição de novembro de 1989 (República Argentina contra Fernando Falco; denegada), onde o relator Sepúlveda Pertence diz claramente, que uma ação violenta só pode ser chamada terrorista “se utiliza armas de perigo comum (como explosivos ou canhões) e coloca massivamente em perigo a população civil”.
Se Battisti tivesse matado essas 4 pessoas, ou ainda, 40 pessoas, uma por uma e usando uma pistola, seria um assassino, mas ainda assim não seria um terrorista.
O Critério de Autoridade
Isto é muito comum no Direito, na vida comum, e em qualquer atividade não científica. Aliás, é típico das crenças políticas fanáticas, as religiosas e as morais, que não tenham base no direito natural. Entretanto, no caso Battisti o abuso aberrante e servil do critério de autoridade chegou às alturas.
Quando o senador Suplicy, num de seus típicos atos se simplicidade, humanidade e grandeza, levou ao Senado um documento redigido pela romancista Fred Vargas, alguns dos gênios togados foram tocados pela histeria. Como era isso possível: “alguém de fora” (que não é juiz, nem mesmo advogado) vai lançar no rosto do relator todas as infâmias cometidas.
De fato, os que assim chiaram eram coerentes. A justiça não é uma coisa pública: é propriedade privada de uma sociedade secreta que decide a contramão da verdade, da lógica e do bom senso, segundo sua conveniência profissional ou… de outro tipo. Esse documento continha 13 perguntas magnificamente colocadas, com impecável referência às fontes, onde a escritora descrevia as fraudes, distorções e omissões dolosas feitas no relatório. Por sinal, a carta de Fred estava redigida num estilo educado, porém respeitoso demais para o que merecem jogadores de cartas marcadas.
Veja o link: http://cesarelivre.org/node/143
Agora, um caso geral: a aceitação de todos os linchadores de que Battisti realmente matou 4 pessoas. Isto não é apenas uma crendice da massa desinformada, mas também uma forma de legalizar uma mentira. Qual é a vantagem? É a de ter um bode expiatório. Todos os que conhecem as religiões monoteístas (a imensa maioria do país) sabem o que isso significa. É alguém para destruir, como a Geni da música de Chico Buarque.
Obviamente, a mesma lei justifica esta aberração. A pessoa pode ser extraditada sem verificar se teve o devido processo. Basta que tenham todos carimbos necessários. Hoje, é óbvio que os crimes atribuídos a Battisti não estão provados por evidências tangíveis, que não há testemunhas que não sejam falsas ou compradas, que não houve advogados e, ainda, que os autores dos quatro assassinatos estão perfeitamente identificados.
Se as pessoas que escrevem em jornais, blogs, etc., que Battisti matou quatro pessoas, afirmassem, com as mesmas provas, que João da Silva deu um cheque sem fundo, seriam imediatamente processados por calúnia.
Finalmente, um caso exacerbado de servilismo com a autoridade, que chega a negar a mesma realidade: é a refutação que o Relator do Caso Battisti faz do terrorismo de estado na Itália descrito, de maneira exageradamente tênue e light por Tarso Genro.
Qualquer pessoa informada, mesmo muito jovem (há muitos exemplos em quase adolescentes que escrevem blogs maravilhosos) sabe que entre 1969 e 1981, houve na Itália um enorme número de atentados a bomba em locais públicos, com milhares de civis mutilados, incluindo crianças e mulheres, e centenas de mortos. Quando o relator escreve isso em seu tóxico libelo, leva o assunto na brincadeira. Numa linguagem muito mais austera, como cabe ao bom juridiquês, disse coisas como estas.
“Vamos, seu Tarso. Não venha com manhas. Essa história de terrorismo fascista, sim, eu também ouvi falar, mas não houve nenhuma condena. Chega de brincadeira”.
Uso de Linguagem Hermética
O recurso ao juridiquês é um dos truques preferidos para que nada se entenda. Seu uso é tão perverso que, ás vezes, nem os mesmos colegas de aqueles que o usam conseguem entender se seu cúmplice diz A, ou disse não A. Em parte, isto provocou várias confusões no STF, especialmente quando o famigerado julgamento das “células tronco”.
O relatório sobre Battisti está contaminado por juridiquês de alerta vermelho, entremeado ainda por versões bilíngües de textos (sic) e outros elementos confusionais. Entretanto, prefiro citar um texto desconhecido onde se usa um termo em juridiquês que é hermético até pelos leguleios mais rançosos. É sempre falando em Battisti:
“A Suprema Corte, então, rejeitou os argumentos da mavórtica defesa do extraditando e deferiu o pedido do governo italiano, fazendo o controle da legalidade necessário, fundamentando-a.”
Bialski, Interesse (mesmo link).
Você sabe o que é mavórtica? Nem eu. Procurei no Google, um buscador que traz milhões de entradas para qualquer termo, mesmo que seja em tamil ou húngaro, mas aqui só tinha 91. A maioria eram perguntas desesperadas (de quem?) pedindo ajuda sobre o significado da palavrinha. Por aí, apareceu alguém que explicou que “mavórtica” é feminino de “mavórtico”, que deriva de Marte, o Deus da Guerra. Então, no contexto de nosso erudito, a defesa dos advogados de Battisti era guerreira ou belicosa. Cuidado. Se vocês conhecem a Greenhalgh ou Barroso, que são dois advogados muito simpáticos, não os chamem de “mavórticos” sem antes explicar qual é a fonte.
Estimulando os Traumas do Leitor
Um fato muito comum na Revista Carta Capital (que foi considerada durante muito tempo, por razões que desconheço, um veículo da centro-esquerda), é atribuir a Battisti, de maneira real o fingida, atos que impressionam negativamente ao leitor, que se sente amedrontado por ele.
Num dos maiores abismos da baixaria, um dos chefões da revista (não lembro qual de ambos) descreve um fato que não aparece em nenhum auto, e que nem a própria embaixada, com toda sua política suja, colocou em evidência: trata-se de aventuras sexuais da adolescência do escritor!
Outro caso, este muito mais grave, é estimular o medo ao terrorismo. Num operativo de incrível cinismo, uma combinação que envolvia um promotor, um alto oficial da polícia federal, e um juiz, se atribuiu a Battisti uma conexão com a Brigada Vermelha (em singular). Essa organização deve ser muito clandestina, pois ninguém ouviu falar nela, apenas da sua parente em plural. Só que as brigadas se dissolveram faz vários anos. Polícia, juiz e MP atribuem a Battisti propriedades mediúnicas, porque eles dizem que se comunica por computador com os brigadistas.
Pressionados pelo corajoso advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um daqueles elementos reconheceu que não era nada grave, que houve uma confusão. Finalmente, outro se desculpou, e disse que levou isso a sério porque receberam denúncias da Embaixada Italiana.
Falácias Diversas
Existem falácias puramente formais (semelhantes a erros lógicos) e falácias de conteúdo. Falácia de conteúdo para gente grande, é uma que se encontra num trabalho de Carlos Veloso: http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=15883
“O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Extradição 232-Cuba, [...] decidiu que “a concessão de asilo diplomático ou territorial não impede, só por si, extradição, cuja procedência é apreciada pelo STF [...]. Na Extradição 524-Paraguai, o Supremo Tribunal decidiu que “não há incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva”
O que sua excelência não diz, é que a extradição 232 é quase 30 anos anterior à lei 9474, e a ext. 524, cerca de 5 anos anterior. Nessa lei, se afirma claramente (art. 33) que a concessão de refúgio elimina qualquer processo de extradição. O ministro não deve pretender, supomos, que dois casos de jurisprudência são mais fortes do que uma lei… mesmo sendo alheio ao mundo do direito, tal conclusão me parece esquisita.
Aqui, muitos poderiam pensar que o ministro demonstrou astúcia (que é uma prima afastada e encrenqueira da inteligência). Mas, não foi bem assim. Qualquer pessoa com mínimo de curiosidade poderia ler os acórdãos dessas duas extradições no arquivo do Supremo, e mandar o escrito do ilustre ministro à lata de lixo, data venia, é claro.
Erros Lógicos
Os erros lógicos são muito freqüentes, porque, como disse acima, verdade, fatos concretos e raciocínios são alheios a um mundo onde vale: convicção suspeita e retórica. Mas encontrei um erro maravilhoso. Ele teria sido ótimo em minhas épocas de professor básico para dar como exercício aos alunos da 5ª. série.
O texto é novamente de Bialski (ibid, nota 1)
“É induvidosa a mencionada exigência de controle, pelo quanto dispõe o artigo 83 da Lei 68215/80 e do artigo 207 do Re­gimento Interno da Suprema Corte Federal: ”Não se concederá extradição sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade e a pro­cedência do pedido, observada a legislação vigente” (grifo meu)
Neste caso, não cabe ser muito severo com o jurista, porque nas faculdades de direito os professores de lógica não são matemáticos nem lingüistas, mas, em geral, outros juristas. O erro que comete o autor não é de má fé. Qualquer professor sabe que ele deve acreditar nisso, mas um aluno da 5ª. série dos dias de hoje lhe mostraria onde está a charada.
Dizer “Não se concederá extradição sem prévio pronunciamento”, tem a forma lógica “Não haverá X, sem haver Y” e, portanto significa para que haja X, deve haver Y. Ou seja, Y (prévio pronunciamento) é condição necessária para X. Porém, não é suficiente, já que então teria a forma: “Se houver Y (pronunciamento prévio) então poderá haver X (extradição)”.
Quando uma condição é necessária e suficiente, diz-se: X se e somente se Y, ou coisa que o valha. Por exemplo: “Não haverá extradição sem prévio pronunciamento”, e, reciprocamente, “se houver pronunciamento (positivo) então haverá extradição (a extradição será obrigatória)”.
A lei diz, então, que, se uma pessoa for extraditada, será necessário que sua extradição seja aprovada (autorizada, permitida, etc.) pelo STF. Mas, não diz que: “Se o STF aprova a extradição, então, esta deverá ser realizada”.
A forma lógica de ambos os enunciados, fica bem evidenciada com estes dois exemplos:
“Não se financia a compra de carro Ferrari, sem que o candidato tenha ficha criminal limpa”
Então, um criminoso não pode financiar uma Ferrari. Deve ter ficha limpa para isso. Mas, será suficiente? Certamente não. A empresa deve exigir que você tenha um salário de vários milhares de reais e, além disso, algum avalista. Ou seja, não por você ter ficha limpa, vai conseguir financiamento para uma Ferrari, se você ganhar um salário mínimo.
Este erro trivial pode deixar de DP a um garoto de 12 anos num colégio decente, mas é cometido por pessoas que têm em suas mãos a vida e a liberdade das pessoas!
Esgotamento Mental
Este procedimento consiste em saturar o leitor com um argumento repetido infinitas vezes, até que se torne um automatismo de sua mente. É um equivalente simplório e vulgar daquele ditado de Goebbels, de que qualquer mentira podia ser incutida se for suficientemente “martelada” na mente dos outros. Obviamente, não estou dizendo que os que usam estes argumentos no caso Battisti sejam do nível de Goebbels. Independentemente do mal-estar que produz a imagem do famoso nazista, devemos reconhecer que sua inteligência não era medíocre: foi uma pena que não a usasse para uma finalidade nobre.
No caso de Battisti, o argumento “esmaga cabeça” é o de sempre:
E, aí… e os boxeadores cubanos?
Aqui não preciso mencionar ninguém, porque este argumento foi usado mais de 1000 vezes, pelas figuras mais diversas: linchadores que escrevem comentários em jornais, apresentadores de TV, parlamentares do DEM, advogados de porta de cadeia, etc..
Eu também pergunto: e aí? Porque nunca foi provado, que eu saiba, que os boxeadores realmente queriam refúgio. Os que dizem que o governo não deseja desagradar a Fidel Castro estão no porão da inteligência biológica. Como explicam, então, que mais de 100 cubanos estejam refugiados no Brasil, incluindo outros atletas olímpicos? O será que Fidel só gosta de boxeadores, todos os outros podem ir embora?
Se eles pediram refúgio e foi negado, obviamente foi uma grave falência do governo e deve ser criticado por isso. Entretanto, nenhum deles, que eu saiba, estava ameaçado de morrer linchado numa cela sem luz.
Conclusão
Não sou das pessoas que odeiam seus inimigos. Pelo contrário, acho que muito de meus inimigos são meus grandes marketeiros. Saber que eles me odeiam me faz sentir que estou no caminho certo.
Tampouco tenho nada pessoal contra a direita. Um dos acusadores do sangrento tirano Pinochet, quando ficou retido em Londres, e depois liberado pela politicagem internacional, era um lord, membro do Partido Conservador. Creio que existe uma diferença conceitual definível entre direita e esquerda, mas como toda divisão de propriedades contínuas possui áreas difusas.
O que me deixa mais abismado no caso de Battisti, é o fato de não ter encontrado nem uma pessoa de certo valor humano entre seus inimigos. Há um jornalista que respeito e que é favorável a extradição, mas não parece ter nenhum ódio especial, nem faz disso sua militância. Acredito quê seja uma seqüela do confronto entre setores políticos dos anos 70.
Mas, fora disso, me deprime que todos os que eu tenho lido (deve haver outros que não conheço) são pessoas rançosas, pensamentos tacanhos e medíocres, sádicos frustrados, mentes servis e rotineiras, puxadores de saco das grandes empresas, partidos ou meios de comunicação, propagadores das mentiras mais brutas com a maior naturalidade, e órfãos de qualquer informação séria.
Poderia falar do outro lado, mas isso fica para outro momento. Além do mais nobre e honesto do Parlamento, estão de nosso lado os melhores juristas brasileiros, os quatro ministros que sustentam a honra da justiça brasileira, os jornalistas mais verazes e corajosos, as pessoas da rua que arriscam muito, porque ninguém sabe como se fará sentir a retaliação daquele mundo regido pela máfia, a igreja, o fascismo, e as organizações secretas.

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lula

O que uma menina de 15 anos pensa do Lula, do PT e da grande mídia… Essa é para começar o ano com esperança!
Publicado em 03/01/2010 por Ana Helena Tavares

Presidente Lula

Por Carolina Matos Leandro*, da Juventude do PT, em seu blog dedicado à política

Para aqueles adultos, que criticam o presidente Lula, ou que se dizem Anti-petistas, ou para aqueles jovens, que ainda não sabem muito da política, mas dizem que sabe, só por influência da mídia.

Olá. Pessoal, meu nome é Carol, e eu tenho 15 anos. Sim,ainda sou nova. Mas acreditem, isso não é um problema!

Vim aqui, explicar umas coisas, sobre a política que tenho certeza de que muitos adultos e jovens ainda não sabem.

O partido do Lula é o PT, certo? Então, logo o PT é da esquerda certo? Então vamos lá, pra quem não sabe:

Há muito tempo atrás a política foi dividia em esquerda, e direita. O partido da esquerda é dos os pobres, e o da direita é dos ricos. E sim, não ERA, mas É. E hoje, o partido da esquerda, inclui o PT, o PSB, o PCdoB. E o da direita, o PSDB, o PP, e o DEM. Os do centro, que são de vez em quando esquerda, e de vez em quando direita, são : PMDB (que é mais esquerda), PR(que é mais direita), e outros que não lembro agora. Tem os da extrema esquerda, que é o PSOL e o PSTU (acho que é só esses ,não tenho certeza se lembrei de todos agora).

Pois então, os partidos da DIREITA, e centro que acompanham mais a direita então vão defender, e apoiar a quem? OS RICOS, certo? Então, os partidos da ESQUERDA, e EXTREMA ESQUERDA,vão defender,e apoiar a quem? Os POBRES, certo?

Então digam-me uma coisa.. Mas porque vocês, vários adultos que conheço, que são de classe baixa e classe média, ficam aí defendendo os partidos de direita,mandando e-mail falando mal e mais mal do Lula, sendo que ele, foi o presidente do Brasil, que abaixou tanto o índice de pobreza no Brasil? E mesmos os ricos, que já têm tanto dinheiro, qual é o motivo de o criticarem? O que estou querendo dizer é,os pobres que precisam de maior atenção, pois são eles que trabalham duro pra ganhar tão pouco,são eles que passam fome, que não têm dinheiro suficiente para dar um almoço digno aos seus filhos. Porque quando o Lula falou, que essa crise aqui no Brasil é uma marolinha, ficaram achando tão ruim? Agora que sabem, que realmente foi uma marolinha, o que têm a dizer? Para os donos de empresas,indústrias, isso não afetou em nada. Mas eles não esperaram a hora de ter uma desculpinha para falar e de repente despedir vários empregados, só pra terem mais lucros, mais ainda do que têm. Lula não mentiu nem um pouco ao falar isso. E por que quando estão numa estrada ruim, esburacada que faz parte da federal, só criticam o Lula, sendo que nem pensam no desvio, que o governo ou o prefeito da cidade, pode muito bem ter feito? E por que ficam vendo tanto a globo, e acreditando em tantas reviradas que fazem contra o Lula, sendo que os donos da Globo são ricos, e como expliquei, os ricos criticam os partidos de esquerda, principalmente o PT, justo porque o governo PT é de esquerda, e está forte?

Pensem nisso!

*Obs: Carolina havia mandado este mesmo texto em versão reduzida para o fórum de comentários da aba superior “Brasil” deste blog “Quem tem medo do Lula?” em 26 de Junho de 2009. Como hoje, 03 de Janeiro de 2009, ela honrou-nos novamente com sua presença lá, dando o link do texto no blog dela, resolvi então reproduzir como postagem, pois vale a leitura.

-22.903539 -43.209587
Arquivado em: Brasil, PIG, Política | Etiquetado: Juventude, lula, PT |

Battisti

Os “argumentos” contra Battisti
Por Carlos Lungarzo em 04/01/2010
Anistia Internacional

Há uma tendência na esquerda, e entre os partidários de tendências iluministas, humanistas e libertárias em geral a identificar a qualidade ética de uma pessoa com sua inteligência, agudeza e informação. Isto parece uma adesão à antiga identidade entre o bem e a razão ou, em termos mais modernos, entre o espírito humanitário e altruísta e a capacidade de argumentação.
Esta identificação está presente nos filósofos gregos, especialmente em Platão, mas também nos hedonistas e nos epicúreos, atravessa a obra de Descartes, vira um assunto central nos cientistas pós-newtonianos, e se torna quase um dogma para a geração Iluminista do século 18. Este intelectualismo está presente nas cartas trocadas por Marx e Engels, que não ocultavam seu desprezo pelos raciocínios grosseiros das elites, pela ignorância de nobres, militares e burocratas e pela barbárie cultural da direita. Inclusive, apesar de sua injusta desconfiança do anarquismo, Marx emocionou-se até chorar ao lembrar o talento de Bakunin, durante o funeral deste em 02/09/1853. (Marx-Engels-Werke, V. 12, p. 284).
Outro fato que reafirma, pela negativa, a relação entre ética e inteligência, é que, durante o forte misticismo ocidental (sec. 4º ao 16º) quando o ser humano foi mais humilhado, ao mesmo tempo a ciência e o conhecimento crítico desapareceram até Galileu.
Entretanto, não é possível tomar a relação moral/inteligência como uma verdade absoluta. Isso criaria uma hierarquia moral das pessoas em função de suas capacidades, o que é uma visão reacionária do mundo. Lembremos, além disso, que simpatizantes do nazismo, como Max Plank e Heisenberg, foram mentes brilhantes em suas especialidade e que Enrico Fermi foi um homem muito inteligente, apesar de ter contribuído a criar a primeira bomba nuclear.
Em minha opinião, a relação precisa entre inteligência e ética é difícil de especificar e talvez precisemos muitas décadas de psicologia para conhece-la num 50%, se tanto. Entretanto, é evidente uma conexão estreita entre ambas, como o mostram os exemplos: é quase impossível encontrar um ditador inteligente, um genocida com algum talento universal, um racista com alguma compreensão do mundo, uma pessoa preconceituosa que impressione por sua racionalidade. Existem muitos casos de pessoas sem escrúpulos com grandes destrezas específicas, mas é difícil encontrar algumas dotadas de inteligência ampla.
Por que toda esta reflexão? Há um ano que, por causa da concessão de seu refúgio/asilo, Cesare Battisti virou conhecido e a opinião pública se dividiu entre os que pediam sua liberdade e os que exigiam sua deportação. Durante este ano, li o equivalente a dúzias de milhares de páginas de jornais, revistas e documentos, e fiquei estarrecido ao fazer uma comprovação:
Nenhum dos argumentos contra Battisti demonstrava a mínima racionalidade, o menor uso de pensamento ou sensibilidade. Como disse antes, não acho que uma cognição apurada implique necessariamente grande estatura moral, nem vice-versa, mas fiquei apavorado pela relação evidente entre pensamento brutal e grosseiro com ódio pelo refugiado.
Acredito, sim, que existam pessoas autocentradas, sem interesse no próximo, que possuam uma visão do mundo bastante ampla. Um destes casos era Leonardo da Vinci, considerado por seus biógrafos mais atuais como egoísta e violento.
Entretanto, as coisas mudam quando aparece um componente de ódio, uma espécie de fanatismo contra tudo o que é diferente, como o que caracteriza o machismo, o racismo, a xenofobia, o imperialismo, o linchamento e todos os sentimentos de direita em geral. Nesses casos, ou a inteligência não é suficiente para evitar a contaminação pelo ódio, ou então, a prevalência do ódio faz aparecer a inteligência como difusa, esvaída, quase inexistente.
Não quero dizer que alguém que sustenta uma posição não-humanitária possua, necessariamente, um entendimento tacanho, embora isso quase sempre acontece. Tenho uma experiência interessante sobre isso. Conheci a Ayres Britto depois de ele ter votado pela extradição, e me surpreendi ao compara-lo com os outros quatro juízes que votaram no mesmo sentido (com os que, afortunadamente, não devi conversar). Britto é um homem cordial, desprovido da empáfia jurídica, um temperamento simples: escreve poesia e gosta de Chico Buarque. Sabe conversar sobre coisas que não estão nos códigos. Aliás, ele não tinha nenhum ódio contra Battisti. Se eu entendi bem, ele achou que não havia motivos para negar a extradição, assim de simples. Se Itália o pedia, saberia por que. Não era submissão à autoridade, apenas rotina. Se alguém morria por isso, não era seu assunto.
Ele não estava contente por entregar uma vítima aos La Russa e os d’Alema da vida. Simplesmente, fez o que parecia mais linear. Afinal, a justiça formal é isso. Então, percebi que era uma pessoa inteligente que não camuflava seus pensamentos: justiça formal nada tem a ver com verdade ou humanismo; é um trabalho.
Mas, não quero referir-me aos que apenas “votariam” contra Battisti, mas aos que estão engajados na causa de triturar uma pessoa para eles desconhecida, que lês estorva por vários motivos:
(1) Porque representa a esquerda. (2) Porque desafia sem temor o terrorismo de estado. (3) Porque não se ajoelha. (4) Porque é uma mente criativa. (5) Porque têm amigos de uma qualidade que seus inimigos nunca reuniriam nem em várias reencarnações. A maior atriz européia dos anos 50, Jeanne Moreau, o Nobel de Literatura Garcia Marques, a talvez maior romancista de enredos policiais das últimas décadas, Fred Vargas, grandes advogados, líderes políticos franceses, e também os melhores amigos brasileiros: Suplicy, José Nery, Luiz Couto e outros.
Essas pessoas que odeiam Battisti não conseguem produzir um argumento bom. Foi por isso que decidi classificar os “argumentos” contra Battisti em várias espécies. Acredito, porém, que esta é uma obra para toda uma equipe e quaisquer enriquecimentos a meu trabalho (muito pretensioso para uma vida só) serão bem-vindos.
Observação: Não gosto de entrar em polêmicas. Se você defende honestamente, de maneira errada ou certa, uma causa, o pior que pode fazer é tornar sua causa um espetáculo de circo. Por isso também não gosto citar ninguém, salvo fontes de mérito que menciono como prova. Neste caso deve ser diferente, mas apenas menciono os autores para que o leitor, se quiser, possa encontrar o assunto mencionado.
A Crítica Através do Elogio
Em alguns casos, o crítico (ou crítica) acha mais confortável elogiar a alguém que ataca Battisti, do que ele próprio fazer sua argumentação. No caso de pessoas ligadas ao direito, uma maneira habitual é tecer uma série mirabolante de elogios a qualquer frase trivial que tenha dito um magistrado inimigo do escritor italiano.
É o caso, entre milhares de outros, do senhor Daniel Bialski, num trabalho intitulado Interesse em Extradição de Battisti é incomum, que me pareceu o mais paradigmático pela bizarrice e servilismo de seus elogios.
http://br.groups.yahoo.com/group/niem_rj/message/5573
“O que se teria visto, na visão do eminente e futuro presidente da Corte Suprema, ministro Peluso, [...] que é atribuição exclusiva da Excelsa Corte.” (Grifos meus)
Existem muitos outros casos que não merecem ser citados, porque não são tão grotescos, mas em todos eles se elogia cafonamente, seja o magistrado, seja a “obra da sua lavra” (ou seja, o escrito de sua autoria). Dessa maneira, se dá um tiro por elevação contra Battisti, usando munição alheia.
Este fenômeno faz parte de um fetichismo, pelo qual se transformam em reais, e até em antropomórficas, entidades que são puras abstrações conceituais. Por exemplo, se elogia a cultura italiana, como se toda Itália fosse um organismo homogêneo que atua sempre da mesma maneira, ou se atribui sacralidade a simples funções profissionais de uma pessoa, por exemplo: “o sábio julgador”.
Comparações Sinistras
Às vezes, para descompor Battisti, os autores usam comparações que são simplesmente repugnantes. É o caso de Alon Feuerwerker, em Diversos pesos, diversas medidas, cuja matéria começa assim:
http://br.groups.yahoo.com/group/niem_rj/message/5573
“A operação política para salvar Battisti decorre de ele ter origem na esquerda. Fosse um militar argentino condenado por crimes na ditadura, estariam os mesmos exigindo, já, sua extradição para Buenos Aires.”
Essa comparação não mede só o nível ético do autor, mas também o cognitivo. Alguém que compara um acusado qualquer (mesmo se fosse o pior criminal comum do mundo, mesmo se fosse o atual chefe de Al-Qaida), com genocidas patológicos e torturadores insanos do exército argentino, demonstra pouca fineza cognitiva. A maioria dos que concedem algum valor aos genocidas argentinos, chilenos ou brasileiros (ao ponto de comparar-los com outras pessoas), costumam ter a esperteza de ocultar suas intenções.
Uma pessoa melhor dotada teria dito: “fosse um fascista…” Aliás, estaria perto da realidade, porque há um fascista italiano que seu governo “simula” querer extraditar. Aliás, para dar palpite num assunto que parece ser sobre direito, o autor conhece pouco: parece que não sabe que “crimes de lesa humanidade” são uma espécie diferente dos políticos e dos comuns.
A posição dos defensores de DH é que, se o fascista não cometeu crimes contra humanidade, deve receber a mesma proteção que Battisti, caso que realmente a Itália o quisesse extraditar, o que parece ridículo.
A Linguagem Injuriosa
Um terrorista, por definição, é uma pessoa que pratica terrorismo. É difícil que alguém que esteja fechado numa prisão durante o dia todo pratique terrorismo. Entretanto, a Folha de S. Paulo chama Battisti de terrorista desde que caiu preso. Um amigo meu mando uma carta à Folha e, como jornal aberto e respeitoso da liberdade de imprensa, substituiu “terrorista” por “ex-terrorista” por algumas semanas. (Posteriormente, voltou a usar terrorista, que causa mais impacto).
Além disso, terrorismo é um termo definido numa comunicação das Nações Unidas que, apesar de não estar aprovada por todos os membros, tem ampla credibilidade. Mas, se os jornalistas querem usar uma definição vernácula, podem ler a ementa de Extradição de novembro de 1989 (República Argentina contra Fernando Falco; denegada), onde o relator Sepúlveda Pertence diz claramente, que uma ação violenta só pode ser chamada terrorista “se utiliza armas de perigo comum (como explosivos ou canhões) e coloca massivamente em perigo a população civil”.
Se Battisti tivesse matado essas 4 pessoas, ou ainda, 40 pessoas, uma por uma e usando uma pistola, seria um assassino, mas ainda assim não seria um terrorista.
O Critério de Autoridade
Isto é muito comum no Direito, na vida comum, e em qualquer atividade não científica. Aliás, é típico das crenças políticas fanáticas, as religiosas e as morais, que não tenham base no direito natural. Entretanto, no caso Battisti o abuso aberrante e servil do critério de autoridade chegou às alturas.
Quando o senador Suplicy, num de seus típicos atos se simplicidade, humanidade e grandeza, levou ao Senado um documento redigido pela romancista Fred Vargas, alguns dos gênios togados foram tocados pela histeria. Como era isso possível: “alguém de fora” (que não é juiz, nem mesmo advogado) vai lançar no rosto do relator todas as infâmias cometidas.
De fato, os que assim chiaram eram coerentes. A justiça não é uma coisa pública: é propriedade privada de uma sociedade secreta que decide a contramão da verdade, da lógica e do bom senso, segundo sua conveniência profissional ou… de outro tipo. Esse documento continha 13 perguntas magnificamente colocadas, com impecável referência às fontes, onde a escritora descrevia as fraudes, distorções e omissões dolosas feitas no relatório. Por sinal, a carta de Fred estava redigida num estilo educado, porém respeitoso demais para o que merecem jogadores de cartas marcadas.
Veja o link: http://cesarelivre.org/node/143
Agora, um caso geral: a aceitação de todos os linchadores de que Battisti realmente matou 4 pessoas. Isto não é apenas uma crendice da massa desinformada, mas também uma forma de legalizar uma mentira. Qual é a vantagem? É a de ter um bode expiatório. Todos os que conhecem as religiões monoteístas (a imensa maioria do país) sabem o que isso significa. É alguém para destruir, como a Geni da música de Chico Buarque.
Obviamente, a mesma lei justifica esta aberração. A pessoa pode ser extraditada sem verificar se teve o devido processo. Basta que tenham todos carimbos necessários. Hoje, é óbvio que os crimes atribuídos a Battisti não estão provados por evidências tangíveis, que não há testemunhas que não sejam falsas ou compradas, que não houve advogados e, ainda, que os autores dos quatro assassinatos estão perfeitamente identificados.
Se as pessoas que escrevem em jornais, blogs, etc., que Battisti matou quatro pessoas, afirmassem, com as mesmas provas, que João da Silva deu um cheque sem fundo, seriam imediatamente processados por calúnia.
Finalmente, um caso exacerbado de servilismo com a autoridade, que chega a negar a mesma realidade: é a refutação que o Relator do Caso Battisti faz do terrorismo de estado na Itália descrito, de maneira exageradamente tênue e light por Tarso Genro.
Qualquer pessoa informada, mesmo muito jovem (há muitos exemplos em quase adolescentes que escrevem blogs maravilhosos) sabe que entre 1969 e 1981, houve na Itália um enorme número de atentados a bomba em locais públicos, com milhares de civis mutilados, incluindo crianças e mulheres, e centenas de mortos. Quando o relator escreve isso em seu tóxico libelo, leva o assunto na brincadeira. Numa linguagem muito mais austera, como cabe ao bom juridiquês, disse coisas como estas.
“Vamos, seu Tarso. Não venha com manhas. Essa história de terrorismo fascista, sim, eu também ouvi falar, mas não houve nenhuma condena. Chega de brincadeira”.
Uso de Linguagem Hermética
O recurso ao juridiquês é um dos truques preferidos para que nada se entenda. Seu uso é tão perverso que, ás vezes, nem os mesmos colegas de aqueles que o usam conseguem entender se seu cúmplice diz A, ou disse não A. Em parte, isto provocou várias confusões no STF, especialmente quando o famigerado julgamento das “células tronco”.
O relatório sobre Battisti está contaminado por juridiquês de alerta vermelho, entremeado ainda por versões bilíngües de textos (sic) e outros elementos confusionais. Entretanto, prefiro citar um texto desconhecido onde se usa um termo em juridiquês que é hermético até pelos leguleios mais rançosos. É sempre falando em Battisti:
“A Suprema Corte, então, rejeitou os argumentos da mavórtica defesa do extraditando e deferiu o pedido do governo italiano, fazendo o controle da legalidade necessário, fundamentando-a.”
Bialski, Interesse (mesmo link).
Você sabe o que é mavórtica? Nem eu. Procurei no Google, um buscador que traz milhões de entradas para qualquer termo, mesmo que seja em tamil ou húngaro, mas aqui só tinha 91. A maioria eram perguntas desesperadas (de quem?) pedindo ajuda sobre o significado da palavrinha. Por aí, apareceu alguém que explicou que “mavórtica” é feminino de “mavórtico”, que deriva de Marte, o Deus da Guerra. Então, no contexto de nosso erudito, a defesa dos advogados de Battisti era guerreira ou belicosa. Cuidado. Se vocês conhecem a Greenhalgh ou Barroso, que são dois advogados muito simpáticos, não os chamem de “mavórticos” sem antes explicar qual é a fonte.
Estimulando os Traumas do Leitor
Um fato muito comum na Revista Carta Capital (que foi considerada durante muito tempo, por razões que desconheço, um veículo da centro-esquerda), é atribuir a Battisti, de maneira real o fingida, atos que impressionam negativamente ao leitor, que se sente amedrontado por ele.
Num dos maiores abismos da baixaria, um dos chefões da revista (não lembro qual de ambos) descreve um fato que não aparece em nenhum auto, e que nem a própria embaixada, com toda sua política suja, colocou em evidência: trata-se de aventuras sexuais da adolescência do escritor!
Outro caso, este muito mais grave, é estimular o medo ao terrorismo. Num operativo de incrível cinismo, uma combinação que envolvia um promotor, um alto oficial da polícia federal, e um juiz, se atribuiu a Battisti uma conexão com a Brigada Vermelha (em singular). Essa organização deve ser muito clandestina, pois ninguém ouviu falar nela, apenas da sua parente em plural. Só que as brigadas se dissolveram faz vários anos. Polícia, juiz e MP atribuem a Battisti propriedades mediúnicas, porque eles dizem que se comunica por computador com os brigadistas.
Pressionados pelo corajoso advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um daqueles elementos reconheceu que não era nada grave, que houve uma confusão. Finalmente, outro se desculpou, e disse que levou isso a sério porque receberam denúncias da Embaixada Italiana.
Falácias Diversas
Existem falácias puramente formais (semelhantes a erros lógicos) e falácias de conteúdo. Falácia de conteúdo para gente grande, é uma que se encontra num trabalho de Carlos Veloso: http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=15883
“O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Extradição 232-Cuba, [...] decidiu que “a concessão de asilo diplomático ou territorial não impede, só por si, extradição, cuja procedência é apreciada pelo STF [...]. Na Extradição 524-Paraguai, o Supremo Tribunal decidiu que “não há incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva”
O que sua excelência não diz, é que a extradição 232 é quase 30 anos anterior à lei 9474, e a ext. 524, cerca de 5 anos anterior. Nessa lei, se afirma claramente (art. 33) que a concessão de refúgio elimina qualquer processo de extradição. O ministro não deve pretender, supomos, que dois casos de jurisprudência são mais fortes do que uma lei… mesmo sendo alheio ao mundo do direito, tal conclusão me parece esquisita.
Aqui, muitos poderiam pensar que o ministro demonstrou astúcia (que é uma prima afastada e encrenqueira da inteligência). Mas, não foi bem assim. Qualquer pessoa com mínimo de curiosidade poderia ler os acórdãos dessas duas extradições no arquivo do Supremo, e mandar o escrito do ilustre ministro à lata de lixo, data venia, é claro.
Erros Lógicos
Os erros lógicos são muito freqüentes, porque, como disse acima, verdade, fatos concretos e raciocínios são alheios a um mundo onde vale: convicção suspeita e retórica. Mas encontrei um erro maravilhoso. Ele teria sido ótimo em minhas épocas de professor básico para dar como exercício aos alunos da 5ª. série.
O texto é novamente de Bialski (ibid, nota 1)
“É induvidosa a mencionada exigência de controle, pelo quanto dispõe o artigo 83 da Lei 68215/80 e do artigo 207 do Re­gimento Interno da Suprema Corte Federal: ”Não se concederá extradição sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade e a pro­cedência do pedido, observada a legislação vigente” (grifo meu)
Neste caso, não cabe ser muito severo com o jurista, porque nas faculdades de direito os professores de lógica não são matemáticos nem lingüistas, mas, em geral, outros juristas. O erro que comete o autor não é de má fé. Qualquer professor sabe que ele deve acreditar nisso, mas um aluno da 5ª. série dos dias de hoje lhe mostraria onde está a charada.
Dizer “Não se concederá extradição sem prévio pronunciamento”, tem a forma lógica “Não haverá X, sem haver Y” e, portanto significa para que haja X, deve haver Y. Ou seja, Y (prévio pronunciamento) é condição necessária para X. Porém, não é suficiente, já que então teria a forma: “Se houver Y (pronunciamento prévio) então poderá haver X (extradição)”.
Quando uma condição é necessária e suficiente, diz-se: X se e somente se Y, ou coisa que o valha. Por exemplo: “Não haverá extradição sem prévio pronunciamento”, e, reciprocamente, “se houver pronunciamento (positivo) então haverá extradição (a extradição será obrigatória)”.
A lei diz, então, que, se uma pessoa for extraditada, será necessário que sua extradição seja aprovada (autorizada, permitida, etc.) pelo STF. Mas, não diz que: “Se o STF aprova a extradição, então, esta deverá ser realizada”.
A forma lógica de ambos os enunciados, fica bem evidenciada com estes dois exemplos:
“Não se financia a compra de carro Ferrari, sem que o candidato tenha ficha criminal limpa”
Então, um criminoso não pode financiar uma Ferrari. Deve ter ficha limpa para isso. Mas, será suficiente? Certamente não. A empresa deve exigir que você tenha um salário de vários milhares de reais e, além disso, algum avalista. Ou seja, não por você ter ficha limpa, vai conseguir financiamento para uma Ferrari, se você ganhar um salário mínimo.
Este erro trivial pode deixar de DP a um garoto de 12 anos num colégio decente, mas é cometido por pessoas que têm em suas mãos a vida e a liberdade das pessoas!
Esgotamento Mental
Este procedimento consiste em saturar o leitor com um argumento repetido infinitas vezes, até que se torne um automatismo de sua mente. É um equivalente simplório e vulgar daquele ditado de Goebbels, de que qualquer mentira podia ser incutida se for suficientemente “martelada” na mente dos outros. Obviamente, não estou dizendo que os que usam estes argumentos no caso Battisti sejam do nível de Goebbels. Independentemente do mal-estar que produz a imagem do famoso nazista, devemos reconhecer que sua inteligência não era medíocre: foi uma pena que não a usasse para uma finalidade nobre.
No caso de Battisti, o argumento “esmaga cabeça” é o de sempre:
E, aí… e os boxeadores cubanos?
Aqui não preciso mencionar ninguém, porque este argumento foi usado mais de 1000 vezes, pelas figuras mais diversas: linchadores que escrevem comentários em jornais, apresentadores de TV, parlamentares do DEM, advogados de porta de cadeia, etc..
Eu também pergunto: e aí? Porque nunca foi provado, que eu saiba, que os boxeadores realmente queriam refúgio. Os que dizem que o governo não deseja desagradar a Fidel Castro estão no porão da inteligência biológica. Como explicam, então, que mais de 100 cubanos estejam refugiados no Brasil, incluindo outros atletas olímpicos? O será que Fidel só gosta de boxeadores, todos os outros podem ir embora?
Se eles pediram refúgio e foi negado, obviamente foi uma grave falência do governo e deve ser criticado por isso. Entretanto, nenhum deles, que eu saiba, estava ameaçado de morrer linchado numa cela sem luz.
Conclusão
Não sou das pessoas que odeiam seus inimigos. Pelo contrário, acho que muito de meus inimigos são meus grandes marketeiros. Saber que eles me odeiam me faz sentir que estou no caminho certo.
Tampouco tenho nada pessoal contra a direita. Um dos acusadores do sangrento tirano Pinochet, quando ficou retido em Londres, e depois liberado pela politicagem internacional, era um lord, membro do Partido Conservador. Creio que existe uma diferença conceitual definível entre direita e esquerda, mas como toda divisão de propriedades contínuas possui áreas difusas.
O que me deixa mais abismado no caso de Battisti, é o fato de não ter encontrado nem uma pessoa de certo valor humano entre seus inimigos. Há um jornalista que respeito e que é favorável a extradição, mas não parece ter nenhum ódio especial, nem faz disso sua militância. Acredito quê seja uma seqüela do confronto entre setores políticos dos anos 70.
Mas, fora disso, me deprime que todos os que eu tenho lido (deve haver outros que não conheço) são pessoas rançosas, pensamentos tacanhos e medíocres, sádicos frustrados, mentes servis e rotineiras, puxadores de saco das grandes empresas, partidos ou meios de comunicação, propagadores das mentiras mais brutas com a maior naturalidade, e órfãos de qualquer informação séria.
Poderia falar do outro lado, mas isso fica para outro momento. Além do mais nobre e honesto do Parlamento, estão de nosso lado os melhores juristas brasileiros, os quatro ministros que sustentam a honra da justiça brasileira, os jornalistas mais verazes e corajosos, as pessoas da rua que arriscam muito, porque ninguém sabe como se fará sentir a retaliação daquele mundo regido pela máfia, a igreja, o fascismo, e as organizações secretas.

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